terça-feira, novembro 25, 2008

No meio dos muitos interesses em jogo
continuam os pobres dos mais pobres

Os líderes africanos reclamaram hoje em Paris, na II Conferência Ministerial Euro-Africana, uma imigração "mais aberta" enquanto a União Europeia (UE) defendeu o seu pacto de imigração selectiva.

Para os africanos, o Pacto Europeu de Imigração, aprovado em Outubro passado, é entendido como a vontade da Europa de se converter num bunker, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros senegalês, Cheik Tidiane.

O Pacto, que propõe um modelo de imigração selectiva, totalmente controlada, e firmeza absoluta com os indocumentados, tem como objectivo principal limitar a chegada de imigrantes às necessidades do mercado laboral europeu.

O ministro da Imigração, da Identidade Nacional e do Co-desenvolvimento francês, Brice Hortefeux, em sintonia com os seus colegas europeus, afirmou que o objectivo do Pacto é "evitar uma Europa bunker e uma Europa cheia de buracos como um coador" e acrescentou que a política migratória não pode fazer-se "sem África nem contra África, mas sim com África", sublinhando a "vontade de diálogo" da UE.

O chefe da diplomacia espanhola, Miguel Angel Moratinos, reconheceu que talvez não se tenham produzido os contactos necessários entre europeus e africanos antes da aprovação do Pacto e sublinhou que a reunião que está a decorrer em Paris deve servir para clarificar estas questões.

A conferência de Paris é a continuação da celebrada em Rabat, Marrocos, em 2006, que reflectiu sobre "uma mudança de filosofia nos processos migratórios", ao considerá-los como um todo "global, integral e de co-responsabilidade", assegurou Moratinos.

O ministro espanhol afirmou ainda que o Pacto Europeu de Imigração procura "transladar a filosofia de Rabat para a Europa", que consiste num "enfoque dividido entre desenvolvimento e cooperação".

No entanto, defendeu o carácter selectivo do Pacto porque os imigrantes buscam um posto de trabalho e, por isso, as políticas de escolha dirigem-se a sectores onde há necessidade de mão-de-obra.

O ministro dos Negócios Estrangeiros marroquino, Taib Fassi Fihri, juntou-se às vozes críticas contra a política europeia de imigração e exigiu à UE "uma lógica construtiva e aberta" contra a "vontade de fechar-se" e reclamou a abertura de "passagens de imigração regular para amenizar as tendências clandestinas".

O chefe da diplomacia marroquina acrescentou que a imigração continuará enquanto existirem "divergências" entre a política migratória europeia e as necessidades dos imigrantes e calculou em cerca de 30 milhões de pessoas a necessidade da União Europeia num horizonte até 2030.

O ministro espanhol afirmou que a imigração deve ser entendida como uma "oportunidade de enriquecimento das sociedades" europeias e convidou o sector privado a "participar no esforço colectivo", anunciando que Espanha celebrará em 2009 um fórum económico entre empresários africanos e europeus.

A reunião de Paris terá continuidade em Dakar, em 2011, onde deverá analisar-se o trabalho realizado até então e tornar realidade o compromisso de trabalhar pela prevenção, protecção e retorno assistido dos menores não acompanhados que cheguem à Europa.

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