O embaixador António Monteiro, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros português, disse hoje à Agência Lusa que os recentes casos de violência registados na Guiné-Bissau afectam a democraticidade na preparação das presidenciais do próximo dia 28.
Quem diria? Ainda bem que António Monteiro resolveu dizer hoje o que, também aqui no Alto Hama, há muito se tem dito numa verdadeira pregação no deserto.
"A violência entrou na vida política guineense e quando há violência é evidente que está em causa a viabilidade de um processo (eleitoral) e eu penso que o que se passou recentemente põe em causa a democraticidade na preparação da eleições, preparação essa que é absolutamente necessária para que um acto eleitoral possa ser considerado válido", afirmou António Monteiro à margem da conferência "Crise - Meios alternativos de resolução de conflitos", a decorrer em Lisboa.
É claro que a questão guineense não é tão superficial como diz António Monteiro. Não é uma questão de validade do acto eleitoral. É, isso sim, de eleições de barriga vazia e de Kalashnikov apontada serem tudo menos sinónimo de democracia.
António Monteiro referiu que acompanha com preocupação o que se passa na Guiné-Bissau e "aquilo que parece ser a falência de um Estado que nos merece todo o carinho e sobretudo esforços redobrados e apoio para conseguir que o país saia destes impasses sucessivos".
António Monteiro, sobretudo (mas não só) na sua qualidade de ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, tem responsabilidades no cartório. Vir agora dizer (e apenas dizer) que a Guiné-Bissau “é um Estado que nos merece todo o carinho e sobretudo esforços redobrados”, é claramente gozar com a chipala de todos os que gostam dos guineenses.
Da análise que faz sobre a situação na Guiné-Bissau, António Monteiro defende que "é preciso deixar aqui alguma margem àqueles que consideram que as próprias eleições podem ser uma solução para os problemas que o país tem conhecido".
Num estilo conhecido de uma no cravo outra na ferradura, António Monteiro diz que "se estão criadas as condições mínimas que garantam a democraticidade do processo, então sim, acho que se deve ir para a frente com as eleições".
António Monteiro sabe bem que a democraticidade do processo é uma treta, como sabe que as eleições nas actuais circunstâncias não são uma solução para o problema mas, antes, um problema para a solução. Esperemos para ver.
Questionado sobre o eventual envio de uma força de estabilização internacional para a Guiné-Bissau, hoje equacionado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Luís Amado, Monteiro admitiu que a iniciativa "poderia de facto garantir a liberdade que é necessária para o voto eleitoral, porque, se não houver uma força que imponha a ordem, pode haver manipulação dos resultados".
Então como é? Em que é que ficamos? Manda-se uma força para pôr o país, ou o que dele resta, em ordem e só depois se fazem eleições, ou fazem-se eleições para depois mandar uma força para pôr o país, ou que restará dele, em ordem?
Sobre a constituição da referida força internacional de estabilização, o antigo governante declarou que "gostava muito que a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) desempenhasse esse papel", admitindo, no entanto, que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) esteja "mais bem preparada" uma vez que já tem experiência nesse campo.
É verdade. Mas como é possível que uma coisa que não existe de facto (de jure figura no papel), como é o caso da CPLP, pode desempenhar um papel que vá para além das grandes almoçaradas?
Concordo com António Monteiro quando diz que "os guineenses não são menos do que todos os outros povos”, embora a comunidade internacional assim pense, discordo quando afirma que “estão preparados para escolher o seu destino”.
Graça à cobardia e à hipocrisia dessa comunidade internacional (CPLP incluída), os guineenses estão apenas cada vez mais bem preparados para utilizar a melhor forma de sobrevivência que conhecem, e que em russo se chama Kalashnikov.
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