O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, esteve no município da Ganda, a 221 quilómetros da cidade de Benguela (Angola), e disse algo que me parece tão importante quanto grave: o povo angolano deve centrar as suas prioridades na consolidação do processo de paz e de reconciliação nacional.
Falando num encontro de militantes do seu partido, as referências explícitas de Isaías Samakuva à paz e à reconciliação devem ser ponderadas.
Quando o líder do principal partido da Oposição entende ainda ser necessário, sete anos depois do fim da guerra, falar da consolidação do processo de paz é porque, na minha opinião, algo não vai bem no percurso político, social e talvez militar do país.
Como aqui tenho dito, o Governo continua a privilegiar (quase) em exclusivo a reintegração plena de todos os militares que vestiram a farda das FAPLA e, depois, a das Forças Armadas de Angola, esquecendo que alguns milhares, muitos milhares, usaram uma farda diferente, a das FALA.
Será por isso que Samakuva continua preocupado com a consolidação da paz? Ou, pelo contrário, refere-se à paz social?
Samakuva disse também que a UNITA continuará a trabalhar para consolidar o papel do Estado e denunciar os que pretendem retardar o desenvolvimento e progresso do país.
É esse o papel da Oposição. Dar voz a quem a não tem. E em Angola são muitos, mesmo muitos, os que não têm voz, sobretudo os que vivem no país real e profundo, sobretudo os que não exibem o cartão de membro do MPLA.
Para Isaías Samakuva, o país vive uma fase muito importante da sua história, com o exercício de elaboração do novo texto constitucional, tendo apelado a todos cidadãos e partidos políticos para contribuírem com ideias e planos valiosos.
É um apelo sério e honesto mas que, como se sabe, não vai ter resultados práticos. O MPLA vai fazer a Constituição que mais jeito lhe der, pouco se importando com os contributos dos outros.
Samakuva realçou que a Constituição é a base fundamental das leis reguladores de um país, devendo para tal conter garantias de liberdade, direitos iguais e oportunidades de emprego para todos cidadãos, sem olhar para convicções políticas.
Isso é que era bom. Mas, é claro, que a Constituição vai conter essas garantias. Por norma, seja em Angola ou em Portugal, na Guiné-Bissau, no Brasil ou no Burkina Faso, as leis são sempre boas. O problema está em cumpri-las.
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