O Brasil ainda não equacionou a participação numa eventual força de estabilização a enviar para a Guiné-Bissau, afirmou hoje o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, que realiza uma visita Portugal. Provavelmente nem equacionará...
Questionado pela Agência Lusa, sobre as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Luís Amado, que considerou "positivo" o envio de uma força de estabilização internacional para a Guiné-Bissau, o governante brasileiro declarou que "o Brasil não participa em operações de fazer a paz".
Só faltou acrescentar que o Brasil está disponível para participar em qualquer país lusófono desde que este, entre outras coisas, tenha riquezas suficientes (tipo petróleo) para pagar a dívida.
"O Brasil só participa em operações sob a bandeira da ONU", respondeu Nelson Jobim, acentuando que "o Brasil participa em operações de manutenção da paz (peace keeping) e não (peace making). Temos actualmente uma operação no Haiti".
Para o ministro da Defesa brasileiro, o que o Brasil pretende é "colaborar com o Ministério da Defesa guineense" e é nesse âmbito que vai enviar para a Guiné-Bissau uma missão militar para colaborar na reestruturação do exército.
Ou seja, o Brasil dá toda a colaboração que lhe interessa, pouco se importando com o que, eventualmente, seja determinado por essa coisa que dá pelo nome de Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
E acho que faz bem. Além disso, se também no Brasil os pretos são considerados (em regra) cidadãos de segunda, porque razão os da Guiné-Bissau deveriam ser tratados de maneira diferente?
Mesmo assim, Jobim admitiu que se se tratasse de uma força sob a bandeira das Nações Unidas, o Brasil poderia ainda examinar a questão. Totalmente de fora fica a CPLP.
"Eu não fui consultado, nem o ministro da Defesa (de Portugal) me falou nada sobre esse assunto", esclareceu, adiantando que a concretizar-se tal hipótese "podia garantir a realização das eleições presidenciais" no próximo dia 28.
"No nosso ponto de vista é fundamental a realização de eleições, a criação de um novo governo e, em cima do novo governo, começar a reconciliação nacional e a reconstrução do país", destacou.
Também o Brasil, como é óbvio, entende que o importante é fazer de conta que a Guiné-Bissau não existe. Aliás, o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim, nem sequer reparou que as eleições do dia 28 são para escolher o presidente e não o governo. Daí ter falado na criação de um novo governo.
"Nós achamos que isto deve ser feito com muita cautela e é uma questão de política interna do país. O Brasil tem muitas reservas sobre intervenções em relação à autogestão dos povos. Queremos ajudar. Não queremos fazer aquilo que o pessoal da Guiné-Bissau não quer que seja feito. Faremos aquilo que eles desejam que seja feito", concluiu... sem concluir coisa alguma.
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