Mais importante do que saber quem ganhou as eleições de hoje na Guiné-Bissau é, no imediato, evitar que o vencedor venha a ter o destino do anterior presidente: uns tiros e umas catanadas até à morte.
Segundo o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, o papel da comunidade internacional na realização das eleições presidenciais antecipadas é de destacar porque, diz ele, vai resultar a normalização do país.
“Houve uma mobilização da comunidade internacional para arranjar meios e a vinda dos observadores eleitorais para que estas eleições pudessem realizar-se hoje”, disse Carlos Gomes Júnior, após ter votado, numa mesa de voto no centro de Bissau.
E então? As eleições fizeram-se, os guineenses lá compareceram, embora em pequeno número. Isso significará que está garantida a normalização? Ou, pelo contrário, os inimigos (internos e externos) da Guiné-Bissau ficam a partir de agora a saber qual é com exactidão o próximo alvo?
Foi assim com Nino Vieira, em Março, foi assim com o candidato independente Baciro Dabó e com o ex-ministro Hélder Proença.
“Para nós, é uma eleição que se reveste de suma importância porque a partir deste momento podemos ter um Presidente legitimamente eleito e que poderá dar paz e estabilidade” ao país, disse o primeiro-ministro.
Mas se a legitimidade valesse alguma coisa, Nino Vieira não teria sido assassinado porque, como hoje aconteceu, foi eleito por vontade (mesmo que comprada) dos guineenses e com a cobertura da comunidade internacional.
Carlos Gomes Júnior mostrou-se confiante na vitória à primeira volta do candidato do PAIGC, Malam Bacai Sanhá, o que, a acontecer, dará ao histórico partido guineense o domínio da Presidência, do governo e da Assembleia Nacional Popular.
Gomes Júnior esquece-se que, pelo menos tanto quanto eu julgo, apesar de poder dominar todos os órgãos políticos, o PAIGC não tem aquilo que na Guiné-Bissau representa hoje o verdadeiro e único poder: as Kalashnikov.
E, ao que parece, tanto os políticos guineenses como os donos do poder na comunidade internacional continuam pouco ou nada preocupados com o facto de os pobres guineenses (a esmagadora maioria) só conhecerem uma forma de deixarem de o ser. E essa forma é usar, não um enxada, uma colher de pedreiro ou um computador, mas antes uma AK-47.
E, ao que parece, tanto os políticos guineenses como os donos do poder na comunidade internacional continuam pouco ou nada preocupados com o facto de os pobres guineenses (a esmagadora maioria) só conhecerem uma forma de deixarem de o ser. E essa forma é usar, não um enxada, uma colher de pedreiro ou um computador, mas antes uma AK-47.
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