Desiludido e preocupado, o candidato do PS a Provedor de Justiça de Portugal, Jorge Miranda, diz que a sua desistência se deve a uma questão de "dignidade pessoal" e ainda "por respeito pela própria dignidade do Parlamento".
Acredito que seja por uma questão de "dignidade pessoal". Já quanto à dignidade do Parlamento... é certamente um bónus de Jorge Miranda na ora de bater com a porta.
"Resolvi retirar-me da corrida basicamente porque verificou-se que depois de duas votações parlamentares, numa das quais, a segunda, eu tive mais de dois terços dos votos expressos, o Partido Social-Democrata continua a insistir em não aceitar o meu nome, apesar de saber que eu sou uma personalidade independente", afirmou à Lusa Jorge Miranda.
É verdade. O PSD sabe que Jorge Miranda é uma personalidade impoluta e independente. No entanto, ao ser escolhido por um partido que de impoluto só tem o poluto, ficou colado a essa imagem de marca do PS de José Sócrates.
Jorge Miranda conta que quando aceitou ser candidato partiu do "pressuposto que haveria um acordo entre o PSD e o PS" e que inicialmente a ideia era que a sua candidatura fosse apresentada conjuntamente pelos dois partidos, facto que o "PSD não aceitou".
Pois é. Jorge Miranda deu crédito a uma coisa que não existe na política, mas sobretudo nos políticos, portugueses: a honestidade. Acreditou que haveria um acordo, pensou até que o seu nome seria apresentado pelos dois partidos... e foi o que se viu.
Numa segunda fase, explica o constitucionalista, apresentou a candidatura e submeteu-se ao voto do Parlamento, supondo que os deputados votassem de acordo com o "princípio de liberdade, por o voto ser secreto", o que não veio a suceder, dado que votaram "em termos de disciplina partidária".
Nem mais. A liberdade é algo tão valioso que se tornou rara ou até em vias de extinção, ao contrário da dita disciplina que transforma supostas pessoas em meros autómatos.
"Nessas condições não vale a pena, mas também penso que o Parlamento não sai muito bem desta situação, porque se verifica que é totalmente dominado por direcções partidárias e estranhas ao próprio Parlamento", diz.
Ao contrário de Jorge Miranda, penso que quase todos os deputados deram uma inequívoca imagem daquilo que são: uma cáfila de bandalhos.
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