O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, considerou hoje inaceitável o alheamento dos portugueses da vida pública, considerando que a elevada abstenção nas eleições europeias de domingo “empobrece a democracia” e deve “fazer reflectir os agentes políticos”.
É verdade. Mas de quem será a culpa? Dos cidadãos que cada vez mais são vistos pelos políticos como mera mercadoria ou, na melhor das hipóteses, como números, ou daqueles que se julgam donos do reino por pertencerem a um casta diferente?
Cavaco Silva, que falava na sessão solene das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Santarém, disse que “em tempos reconhecidamente difíceis como aqueles em que vivemos, não é aceitável que existam portugueses que se considerem dispensados de dar o seu contributo, por mais pequeno que seja”.
Não é, Senhor Presidente, uma questão de se consideraram “dispensados de dar o seu contributo”, é antes uma questão de não aceitarem passar um cheque em branco a políticos em quem não acreditam. Mudem-se os políticos e as políticas e os portugueses passarão a estar na primeira linha do combate democrático.
Para Cavaco Silva, “o alheamento não é uma forma adequada - nem, certamente, eficaz - de enfrentar os desafios e resolver as dificuldades”. Tem razão. Mas o exemplo deve partir de cima.
Uma abstenção como a registada nas eleições europeias de domingo, na ordem dos 62,95 por cento, é “um sintoma de desistência, de resignação, que só empobrece a nossa democracia”, salientou.
Não. Não é sinónimo de desistência, de resignação. É sintoma, claro, de que ou os políticos portugueses deixam de cantar no convés enquanto o navio se afunda, ou sujeitam-se a que o Povo saia à rua e os afunde.
“Quando estão em causa questões que a todos dizem respeito, nenhum de nós se pode eximir das suas obrigações, sob pena de a gestão da coisa pública ficar sem esse escrutínio indispensável que é o voto popular”, defendeu o Presidente da República.
Pois é. Mas quando são os próprios políticos a eximir-se das suas obrigações, à plebe só resta numa primeira fase mandar as eleições às malvas e, depois, sair à rua.
Por outro lado, disse Cavaco, a abstenção deve “fazer reflectir os agentes políticos”, já que, sustentou, “a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas depende, em boa parte, da forma como aqueles que são eleitos actuam no desempenho das suas funções”.
Está a ver, Senhor Presidente, como o Povo tem razão? Se o país mudar de políticos, o Povo não quererá mudarde país.
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