A deputada do MPLA, Welwistchea ("Tchizé") dos Santos, fez uma participação criminal, por "difamação e calúnia", contra a secretária-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Luísa Rogério, e órgãos de comunicação social não especificados.
Está, obviamente, no seu direito. Segue, aliás, o exemplo de José Sócrates, primeiro-ministro português e íntimo amigo do seu pai, que quando não gosta que os jornalistas o contrariem descobre difamações e calúnias em tudo quanto é sítio.
A deputada do MPLA e filha do Presidente da República de Angola e do MPLA (partido que, ao contrário do seu irmão luso, o PS, está no poder desde 1975) José Eduardo dos Santos, justifica a participação judicial com o facto de se sentir "difamada e caluniada" mas também porque foram postos em causa "princípios elementares de um jornalismo sério e isento".
Tal como manda a cartilha socialista portuguesa, também o MPLA é o perito dos peritos em não perceber o que é a liberdade de expressão, atrevendo-se a dizer que sabe o que são "princípios elementares de um jornalismo sério e isento".
Tchizé dos Santos manteve uma troca de palavras, através de jornalistas (que lá como cá, que cá como lá, assumem a sua capacidade de correias de transmissão) com Luísa Rogério, depois da dirigente sindical ter afirmado existir um "conflito de interesses" entre a sua condição de deputada e membro de uma Comissão Técnica de Reestruturação da Televisão Pública de Angola (TPA).
Neste aspecto, Luísa Rogério meteu o pé na argola. É que não existe “conflito de interesses” ou incompatibilidades. Isso só existiria se Angola fosse um Estado de Direito Democrático. Como não é, os donos do reino (em Portugal é a mesma coisa) podem fazer o que lhes der na real gana, desde logo porque estão acima da lei, quando e se esta existe.
Depois das críticas de Luísa Rogério, Tchizé veio a terreiro garantir a inexistência de incompatibilidades porquanto a comissão que integra não tem palavra em matéria de gestão da TPA, estando apenas na comissão com a qualidade de consultora e com o papel de apresentar propostas, "que podem ser aceites ou não", para modernizar a televisão estatal angolana.
Nem mais. Está-se mesmo a ver que a filha do Presidente de Angola e do partido que governa o país desde 1975 é uma mera consultora, singela e casta como mais nenhuma.
As coisas azedaram de vez quando a deputada do MPLA disse à Lusa e à Rádio Ecclésia, que a dirigente sindical, Luísa Rogério, lhe tinha telefonado, "desculpando-se" das afirmações feitas, justificando-as com o desconhecimento de parte do dossier de reestruturação da TPA.
Não creio que Luísa Rogério tenha telefonado à deputada. Mas fez mal. Devia ter-lhe telefonado e pedido desculpa e, a exemplo do que se passa no reino luso, lambido os sapatos italianos dos que são donos do poder. É que isso de ser livre mas desempregado e de barriga vazia custa muito.
Seja como for, a secretária-geral do SJA reafirmou tudo o que dissera e negou qualquer pedido de desculpas. Reconheço que, como jornalista (dos tais livres mas desempregados e de barriga menos cheia), gostei da atitude de Luísa Rogério.
Pela boca de Tchizé dos Santos ficamos a saber, se é que alguma dúvida existe, que foi convidada "apenas e só" devido ao seu "curriculum" e às suas "competências". É claro que sim. Basta ver de quem foi o convite. Foi do ministro da Comunicação Social do partido liderado por José Eduardo dos Santos, por sinal também Presidente da República...
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