Para além dos aspectos formais e politicamente correctos, todos sabemos que a Guiné-Bissau não tira o sono a Portugal ou à CPLP, por muitos que sejam os seus problemas.
Não admira, por isso, que os guineenses sejam de facto (não na hipócrita dialectica dos políticos) considerados cidadãos de segunda, sobretudo por aqueles que, embora com responsabilidades, têm garantidas três refeições por dia.
Estando a Guiné-Bissau na encruzilhada em que está, o que fez Portugal? Entre o nada e coisa nenhuma, anunciou que o material eleitoral cedido por Lisboa, no âmbito do apoio às eleições presidenciais antecipadas na Guiné-Bissau, chega na sexta-feira ao país.
Não sei se os guineenses vão resolver os seus graves problemas, comendo boletins de voto, tinta indelével, carimbos, sacos de plástico etc. Mas se calhar não têm outro remédio.
Mas, ao mesmo tempo que Portugal noticiava o envio de tão filantrópica e decisiva ajuda para um país que, nesta altura, precisa de tudo menos de eleições, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) avança que o envio de uma força de paz para a Guiné-Bissau será analisado a 22 de Junho, em Abuja (Nigéria).
Não seria aconselhável Portugal e a CPLP aconselharem a CEDEAO a meter-se na sua vida, deixando aos guineenses o direito de se matarem uns aos outros?
De acordo com o presidente do Conselho de Ministros da organização e também ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, Bagudu Hirse, em declarações à Lusa, a CEDEAO deverá tomar uma “forte posição” sobre a situação que se vive na Guiné-Bissau.
“Já chega de impunidade. Vamos exigir resultados das investigações. Vamos também analisar a disponibilidade de Angola (já manifestada) em enviar soldados para a Guiné-Bissau”, disse Bagudu Hirse, garantindo que, desta vez, “vão ser conhecidos os responsáveis” pelas mortes de altos dirigentes guineenses.
“Angola manifestou disponibilidade para enviar soldados para a Guiné-Bissau e nós vamos também analisar essa possibilidade na Cimeira” da CEDEAO, insistiu Bagudu Hirse, garantindo também que a investigação que a organização sub-regional exigiu está em curso.
Pois é. A CEDEAO, bem como Angola, podem errar nas atitudes que querem tomar e que certamente vão tomar. E podem errar porque vão fazer alguma coisa. Portugal, é claro, não erra. E não erra porque nada faz.
É tão simples quanto isso.
Foto: O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, Zamora Induta
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