Há cerca de dois meses, o meu amigo e antigo secretário da UNITA para as Relações Exteriores, Alcides Sakala, considerou que seis anos após a assinatura dos acordos de paz, que passaram a designar-se Memorando de Entendimento Complementar ao Protocolo de Lusaka, há um défice muito grande no que diz respeito à reconciliação nacional.
Em declarações à Voz da América, a propósito do sexto aniversário da assinatura dos acordos de paz, rubricados a 4 de Abril de 2002, Alcides Sakala afirmou que, se por um lado há um certo crescimento económico, sem qualquer impacto na vida do cidadão, por outro verifica-se um défice muito grande em relação à reconciliação dos angolanos.
Na altura, e agora também, dei toda a razão ao Alcides. Volto agora a pegar no assunto porque são cada vez mais fortes os indícios de que o défice de reconciliação também atinge a família da UNITA. Embora de forma não assumida, chovem de todos os lados informações de que, agora que as eleições em Angola estão marcadas, há gente importante no Galo Negro disposta a lavar roupa suja.
O líder da bancada parlamentar da UNITA entendia que a reconciliação em Angola falhou redondamente, afirmando que o partido no poder implementa estratégias que visam criar divisões e intimidação. Sakala apontou os alegados casos de intolerância política que diz ocorrerem um pouco por todo o país, particularmente nas regiões do interior.
Tudo isto é verdade e reflecte a sábia análise do Alcides. Espero, contudo, que os dirigentes da UNITA saibam agora aplicar dentro de casa as regras, correctas, que exigiam que o seu adversário aplicasse na deles, na de todos os angolanos.
«A reconciliação deve significar mais abertura, mais aproximação entre angolanos, mas hoje, infelizmente, o partido da situação implementa estratégias que visam criar divisões, clima de intimidação, o que não ajuda a fortalecer aquilo que devia ser a verdadeira reconciliação nacional. Eu penso que esta é a tónica negativa dos seis anos de paz», enfatizou Sakala no diagnóstico que – dizem-me – se aplica agora à própria UNITA. Será?
«É papel dos dirigentes políticos trabalharem no sentido de sarar as feridas e tirar as lições do passado. O que eu vejo do outro lado é ainda a ideia de querer responsabilizar estes ou outros, porque somos todos responsáveis. Nós e o Governo temos as nossas responsabilidades, que é um passivo. E é a partir deste passivo que temos de construir a nova sociedade. E este é o papel que a UNITA procura concretizar logo após as eleições legislativas, porque nós temos um programa real de reconciliar esta sociedade», referiu Sakala.
Vamos ver se, um dia destes, não vai aparecer a prova de que, afinal, a UNITA também pratica a velha filosofia de “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.
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