O jornalista angolano Fernando Lelo, antigo correspondente da Voz da América no território de Cabinda, ocupado militarmente por Angola, foi hoje condenado a 12 anos de prisão por prática de crime contra a segurança do Estado e instigação à rebelião armada no enclave. Ou seja, está tudo no bom caminho da ditadura do MPLA.
O acórdão, que há muito deveria ter sido divulgado mas que, estrategicamente, esperou pelas eleições, foi ditado pelo Tribunal Militar de Cabinda, mas a defesa do arguido considera a decisão do tribunal "injusta" e promete recorrer.
Para Martinho Nombo, advogado de defesa de Fernando Lelo, a sentença foi uma "autêntica encenação", frisando que em Angola "a justiça não existe". Encenação que revela o quão longe Angola está de ser um Estado de Direito.
"Fernando Lelo não esteve em Buco-Zau a 12 de Julho de 2007, local onde foi indiciado como tendo praticado o crime contra a segurança do Estado conforme consta na acusação, mas sim em Malongo, onde trabalhava para uma empresa petrolífera, que confirmou este detalhe", salientou Martinho Nombo.
Mas o que é que isso adianta? A única verdade que conta é a do MPLA e, portanto, angolanos e cabindas têm de comer e calar, enquanto a comunidade internacional canta e ri embalada pelo petróleo.
Segundo o advogado, o processo estava "viciado", uma vez que não foi instruído em Cabinda, mas na capital angolana, Luanda. "Este foi o dia mais negro que vivo até hoje na minha modesta actividade de defender casos como este", frisou.
Fernando Lelo foi preso em Novembro de 2007 pelas autoridades angolanas e já não trabalhava para a Voz da América, depois foi transferido para uma cadeia de Luanda, enquanto decorriam as investigações e devolvido no final do mês passado para a cidade de Cabinda para julgamento.
O acórdão do juiz presidente do Tribunal Militar de Cabinda, António Miguel, condenou também outros quatro arguidos envolvidos no mesmo caso a 13 anos de prisão. As autoridades angolanas nunca especificaram os crimes que terão sido alegadamente cometidos por Fernando Lelo o que, só por si, é revelador da ditadura que reina, agora ainda mais sólida, em Angola.
Cabinda, um território militarmente ocupado por Angola, tem 10.000 quilómetros quadrados e 300.000 habitantes e é responsável pela maior parte da produção petrolífera angolana, além de possuir outros recursos como fosfato, urânio, ouro e potássio.
1 comentário:
Eis aqui um exemplo daquilo que em Angola não devia suceder e, parece-me, que já nem sequer seria preciso... Esta história de conspirar contra a pátria, tribunais militares, etc e tal, são o fim de qualquer possibilidade de mudança em Angola. É difícil de ver?
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