Como diz Gil Gonçalves no seu e nosso Universal (*), “é (em Angola) impossível roubarem-nos a... fome”. É uma frase que diz tudo. Mas, é sobre outros angolanos que volto a falar. É sobre os de primeira que frequentam os nobres areópagos da sociedade portuguesa.
No texto anterior escrevi sobre as comemorações, nas ocidentais praias lusitanas a norte de Marrocos, do 33º aniversário da (in)dependência de Angola.
Como se diz aqui no Porto, quase caiu o Carmo e a Trindade por eu ter escrito que as comemorações na Invicta foram marcadas pela segregação. “Nada disso”, dizem algumas mensagens recebidas, sendo que outras confirmam, até pela linguagem usada, que não houve fumo sem fogo.
Uma outra linha de pensamento reage no sentido de a segregação ter sido feita não pela cor da pele mas, isso sim, pela cor política. Talvez.
Deixem-me, contudo, contar o que se passou comigo. No início deste mês liguei para o Consulado de Angola para saber se haveria comemorações no Porto e, caso houvesse, o que teria de fazer para estar presente.
- “Sim, haverá comemorações”, responderam-me com a delicadeza característica das boas gentes da minha terra.
- “E então o que é preciso fazer?”, perguntei enquanto mentalmente fazia um regresso à minha também mui nobre e sempre leal cidade do Huambo.
- “É angolano?”, perguntaram-me.
Com um manisfesto orgulho, certamente sentido na tonalidade musical das minhas palavras, respondi que Sim.
É então que, num instante, senti na alma a mesma dor que, em 1975, senti no corpo quando os camaradas das FAPLA resolveram dar-me uma carga de porrada para ver se me reeducavam politicamente.
- “É negro ou branco?”, perguntaram.
- “Não basta ser angolano?”, repliquei.
Não, não bastava.
3 comentários:
Meu caro
Não quero ser ingénuo, embora possa parecer, mas acho que isto deveria ser remetido à Embaixada a/c do representante legal do Embaixador que, se bem o conheço, não iria ficar nada, repito NADA, satisfeito com o assunto.
É grave a pergunta, demonstra um custo rácico inadmissível. seja no sentido de segregrar a cor, enquanto cor, seja no sentido de segregar enquanto pessoas.
Kandandu
Eugénio Costa Almeida
A outros foram os das FALA que lhes deram porrada. Assim foi ou vai Angola com estes dois UNITA e MPLA. O diabo que os leve.
Meu Deus.E Agora?
Nasci aqui,
Aqui Cresci, Aqui.
Aqui Casei, aqui.
Aqui pari,
Aqui Vivo, aqui.
Como vai ser?
Como será a vida dos meus filhos Aqui?
Como será?
Os meus filhos que não são nem brancos nem prestos?
Como será a pergunta?
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