As autópsias aos corpos dos autores do atentado de 11 de Fevereiro contra José Ramos Horta apontam para uma execução à queima-roupa e na nuca, local que teria sido muito difícil de alcançar num tiroteio.De acordo com o jornal «The Australian», as autópsias ao Major Alfredo Reinado e ao soldado Leopoldino, revelam que os tiros foram disparados a menos de 30 centímetros, uma vez que as feridas no corpo de Reinado apresentam hematomas profundos.
Com a habitual benevolência dos leitores do Alto Hama, transcrevo o artigo «Quem terá planeado a emboscada para assassinar Alfredo Reinado?», aqui publicado no dia 14 de Fevreiro deste ano:
Alfredo Reinado é um herói ou um criminoso? Há, como em tudo na vida, teses que sustentam qualquer um dos veredictos. Mais do que saber qual o epíteto que lhe deve ser dado, seria importante saber o que de facto se passou. O major Reinado liderou uma emboscada a Ramos Horta e a Xanana Gusmão ou, pelo contrário, foi atraído a uma emboscada?
As versões oficiais e politicamente correctas indicam que Alfredo Reinado quis decapitar Timor-Leste, matando o presidente da República e o primeiro-ministro. Perante a constatação de que o major fora morto uma hora antes de Ramos Horta ser alvejado, as versões foram retocadas e aventada a hipótese de a ideia ser raptar Horta e Xanana.
Chamados, como sempre acontece, a descobrir o que se passara num país a quem chamam o seu quintal, os australianos sustentam a tese de tentativa de rapto por ser, reconheço, a mais verosímil com os dados conhecidos e mais fácil de digerir por comunidade internacional que alinha na “diabolização” de Alfredo Reinado.
Há, contudo, outras possibilidades de leitura para o que se passou, goste-se ou não de Alfredo Reinado. Fontes timorenses acreditam que o major não queria nem matar nem raptar Horta e Xanana .
Reinado, embora armado e protegido pelos seus homens, ter-se-á dirigido à casa do presidente para, com o seu conhecimento, falar com ele e tentar resolver a questão da sua eventual entrega à Justiça timorense. Lá chegado, a segurança de Ramos Horta terá atirado primeiro para perguntar depois ao que vinha o major. Matou-o.
Considerando que tinham sido traídos, os homens de Reinado viram o seu líder assassinado e esqueceram ao que iam. Responderam na mesma moeda, avisaram o grupo de Gastão Salsinha, e começaram a caça a Ramos Horta que foi atingido, recorde-se, uma hora depois de Reinado estar morto.
Salsinha ao saber que Reinado fora morto mandou homens à casa do primeiro-ministro e, dada a sua ausência, tentaram bloquear a caravana em que Xanana Gusmão seguia.
Colherá esta tese? Provavelmente não. É a mais incómoda quer para o poder instituído em Timor-Leste quer, ainda, para as forças australianas que não dizem o que sabem.
A tese oficial, seja a de assassinato ou rapto, tem de facto muitas pontas soltas. Reinado lideraria um golpe para matar Horta dirigindo-se à casa sem saber que, como o presidente fazia todos os dias, aquela hora ele fazia sempre exercícios nos terrenos limítrofes? Mandaria os seus homens à casa de Xanana sem cuidar de saber se ele lá estaria?
Não vale a pena, contudo, aguardar pelos próximos episódios. Reinado foi morto e enterrado e às instituições internacionais falta coragem para ir a fundo nas investigações.
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