segunda-feira, agosto 11, 2008

UNITA diz que quem vota são os angolanos
mesmo que para o MPLA nem todos o sejam

O primeiro-ministro português, José Sócrates, não poderia dizer o contrário quando elogiou o Governo de Angola, afirma o presidente da UNITA em entrevista a Henrique Botequilha, da Lusa, lembrando porém que "é o povo angolano que vota" nas legislativas de 5 de Setembro. Falou o diplomata e não tanto o líder da Oposição.

No passado 17 de Julho, José Sócrates realizou uma visita de trabalho a Luanda, onde afirmou que "o trabalho do Governo de Angola é a todos os títulos notável".

Sócrates disse isso de um país em que mais de 68% da população vive em pobreza extrema, em que a taxa estimada de analfabetismo é de 58%, enquanto a média africana é de 38%.

Sócrates disse isso de um país em que mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros, em que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Nesta entrevista à Agência Lusa em Luanda, o presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, considera que "o primeiro-ministro português não pode vir a Angola dizer o contrário", defendendo, no entanto, que "qualquer governo que se preze não poderia fazer menos que aquilo que está a ser feito" em Angola.

Isaías Samakuva afirma que "o Governo poderia ter feito muito mais e com calma, porque nesta corrida contra o tempo, a qualidade das obras não é a mais desejada".

"Esta corrida poderá ter impressionado o primeiro-ministro português, mas são obras que ainda não têm impacto real na qualidade de vida das populações", adianta.

"Não é o que o primeiro-ministro vem dizer que nos preocupa, o que conta é o que o povo angolano vê, vive no dia-a-dia, porque é o povo angolano que vai votar", afirma o líder da UNITA, partido que está representado no Governo de Unidade e Reconciliação Nacional.

A menos de um mês das legislativas de 5 de Setembro, o presidente da UNITA diz que reprovará qualquer visita a Angola de um chefe de Estado ou de governo no período eleitoral. "Numa altura destas, de campanha, será uma tentativa de demonstrar apoio a um dos partidos - gostaríamos que isso não acontecesse", avisa.

O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder desde 1975, tem usado no seu discurso o prestígio internacional que Angola está a ganhar, alertando para a sua continuidade no Governo como uma garantia para a comunidade internacional.

"Sarkozy, Bush ou Lula vêm para Angola por causa de Angola e do seu povo e não por causa do MPLA", assinala Samakuva, acrescentando que "nós também somos recebidos nas capitais europeias, mas não é por causa da UNITA, é por causa de Angola e dos angolanos".

"Nós temos conversado com dirigentes desses países que dizem palavras laudatórias ao Governo, mas, para eles, o que conta é a manutenção das relações com Angola. E isso a UNITA garante", afirma.

Nas legislativas, Isaías Samakuva está convicto de que "Angola vai dar um exemplo a África e não só".

"Muitos estão pessimistas, com receio, pensando que, se o MPLA perde, poderá acontecer o que vimos no Zimbabué e no Quénia. Eu creio que não", adianta, mostrando-se ainda convencido de que "os dirigentes do MPLA e o Presidente da República, na sua qualidade de garante da estabilidade nacional, farão com que o poder seja entregue ao partido que o povo escolher".

Será? O MPLA é o mesmo de 1992 e o Presidente da República é o mesmo. Se, nessa altura, a UNITA ainda tinha armas e foi o que foi, como será agora?

Integrada na União Democrática do Centro, um espaço político que reúne mais de cem países do mundo inteiro, Samakuva identifica o seu partido como social-democrata e diz que vai buscar apoios e financiamentos a movimentos políticos em África, Europa e América.

"Mas não temos ilusões, sempre considerámos que os apoios e amizades estão sobretudo na base de interesses", afirma. Segundo Samakuva, a "UNITA é um partido que visa assumir o poder político e, por isso, estando no poder, todos os países com interesses em Angola, darão os seus apoios".

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