Acabei agora de me cruzar com uma parte da História de Angola ao ler o livro "Cruzei-me com a História", de Samuel Chiwale, ex-Comandante Geral da UNITA.
Tenho por norma ir sublinhando e anotando tudo aquilo que me parece relevante. Desta vez mudei de ideias. Se não mudasse teria de sublinhar todas as linhas das 310 páginas de uma obra que, a par do livro de Alcides Sakala, ver «Memórias de um guerrilheiro» que ama Angola como ninguém, é fundamental para a História de UNITA e de Angola.
Sobre o presidente fundador da UNITA, mesmo que tendo sido vítima de algumas das suas injustiças, Samuel Chiwale diz: “O Dr. Savimbi era um verdadeiro fenómeno: um intelectual de mente clara e pensamento profundo. A juntar a isso estava a sua capacidade de, diante de alguém, traçar mentalmente o seu perfil e, em função disso, recorrer ao argumento apropriado para o convencer. Diante de pessoas com esta dimensão, pouco podemos fazer a não ser segui-las. Foi isso que se passou comigo” (Página 60).
Foi, aliás, isso que se passou com milhões de angolanos sendo que um deles fui e sou eu. Savimbi disse-me (como tantas vezes recordo) que Angola não se define, sente-se. Foi a mais sublime das verdades que ouvi e que continua inalterável.
É claro que nem todos os que privaram com Jonas Savimbi, até mesmo alguns dos que com ele fundaram a UNITA, resistiram à força centrípeta dos dólares do MPLA, como recorda Samuel Chiwale. “Miguel N’Zau Puna e Tony da Costa Fernandes haviam sido comprados pelo MPLA por uns míseros milhões de dólares”, (Página 279).
Muitos dos ilustres portugueses fazedores de opinião sobre Angola, mesmo que sejam militares de alta patente, devem ler esta obra da Samuel Chiwale. É que, cada vez mais, a tese de que o MPLA foi o único a dar o corpo e a alma na luta contra o colonialismo português cai por terra.
Se calhar, dos três envolvidos (MPLA, UNITA e FNLA) o partido a quem foi entregue pelos camaradas de Lisboa o Governo de Angola, em 11 de Novembro de 1975, foi o que menos fez pela libertação do país.
Samuel Chiwale desmonta o mais batido argumento do MPLA e dos comunistas portugueses quanto à suposta colaboração da UNITA com a PIDE-DGS. Mas, de facto, só o tempo clarificará uma das mais nojentas estratégias dos donos do então poder em Lisboa.
Co-fundador da UNITA juntamente com o líder histórico Jonas Savimbi, Chiwale afirma mesmo que, antes da independência, nas áreas de maior implantação do movimento do "Galo Negro" - nomeadamente Bié, Malange, Cuando-Cubango e Lundas - "ninguém ouvia falar do MPLA", identificando como movimento independentista apenas a UNITA.
Chiwale reclama que a o movimento tinha "células clandestinas" em todas as capitais de distrito antes da independência, que tinham como missão "inocular os jovens" e mobilizá-los para a luta na clandestinidade.
Samuel Chiwale promete um novo livro sobre o período pós-independência, nomeadamente "a expansão russo-cubana" em Angola durante a Guerra Civil e a questão das sanções das Nações Unidas ao movimento do "Galo Negro".
Venha ele. A História de Angola precisa de todos estes tijolos. Destes e de outros que tardam em aparecer, eventualmente porque nem tudo foi digno na UNITA, nomeadamente quanto ao processo de traição que levou à morte de Jonas Savimbi, protagonizado por ex-altos quadros militares do Galo Negro e, mais uma vez, com o apoio de cérebros potugueses pagos em dólares.
5 comentários:
Sabes o que mais me custa,Orlando Castro,é o facto de nós ,os traídos de abril sermos umas centenas de milhares de pessoas e alguns até estão bem posicionados na sociedade e nunca fomos capazes de organizar um movimento,não para receber o que o meu pai deixou lá em Angola,porque o que eu perdi não tem preço,mas sim para humilhar essa corja de bandalhos que mais não eram simples militares e outros simples politicozecos do pcp e até do ps,se bem que hoje já todos os partidos estão pejados desses traidores.Mas seria um movimento que trouxesse a luz do dia os crimes que esses tipos fizeram e vamos tentando afastar os nossos fantasmas andando aqui pela net e entretanto esses tipos vão morrendo sem serem julgados.
Manuel Sousa.
Orlando,
Chiwale não tem razão numa coisa:
Nas Lundas sabia-se da existência do MPLA, e muito bem sabido ..., apenas estavamos com a UNITA, apenas isso!
Quanto à traição a Savimbi, abjecta, nojenta e asquerosa.
Esses vendidos terão o mesmo fim
tenho diante de mim o livro de Samuel Chiwale: li e reli o seu depoimento. Nascido em Angola, filho e neto de portugueses já nascidos em Angola,falando ainda hoje o dialeto m´bundo,conhecendo muitos dos apelidos ali referidos, não posso deixar de admirar quem foi coerente, determinado, corajoso e de uma capacidade de liderança ímpar entre os líderes africanos.
Remeto os leitores do livro "Cruzei-me com a História" para o Cap: XVII, pág. 259, "Tempos sombrios: lutas internas no seio do Partido". Seria este assassino e torturador o Líder desejado para governar Angola?
Resido currentemente nos EUA e gostaria de adquir este livro:"Cruzei-me com a Historia". Unma vez nao residindo nem em Angola nem em Portugal, alguem poderia me ajudar como posso aduiri-lo?
Obrigado,
PS
Gil, não tentes tentes conseguir o livro em Angola.As livrarias não o possuem, tente através de alguém em Portugal.
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