Também no jornalismo, a lealdade quando é comprada não é mais do que uma traição adiada. Infelizmente, grande parte dos jornalistas, agora transformados em produtores de textos de linha branca, esqueceram, esquecem e esquecerão regras fundamentais a troco de um prato de lentilhas.
Reconheço, contudo, que quando se é produtor de textos de linha branca não se precisa de princípios éticos, morais ou deontológicos. Apenas é necessário saber pôr em funcionamento a linha de enchimento e dizer amén ao capataz.
No entanto, porque mesmo esses autómatos querem ser chamados de jornalistas, importa dizer-lhes desde logo que quem não vive para servir o que pensa ser a verdade, não serve para viver essa mesma verdade.
Se não existimos para dar voz a quem a não tem, o que é que andamos a fazer nesta profissão? É que, para dar voz a quem já a tem, existem os propagandistas; estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional.
Os jornalistas pela sua génese devem, deveriam, entender que a única forma de se valorizarem é aprenderem com quem sabe mais (e saber que nada sabemos é a melhor forma de sabermos alguma coisa). Mas isso não acontece. Muitos deles, muitos de nós, cada vez mais, pensam que a sua valorização passa por amesquinhar quem sabe mesmo mais.
Eu seio que essa estratégia é fácil, é barata, dá milhões e agrada ao capataz, mas vão com calma.
E é desses, de facto, que os ditadores, estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional, gostam.
Enquanto uns perguntam o que não sabem, e só são ignorantes durante o tempo que leva a chegar a resposta, outros (receosos que se saiba que, afinal, não sabem tudo) preferem ficar ignorantes toda a vida. Ficar e fazer dos outros uma cópia.
E é destes que os ditadores, estejam ou não na Assembleia da República, dirijam ou não os meios de comunicação social, sejam ou não donos e senhores da economia nacional, gostam.
Na sociedade portuguesa, nos muitos "Janeiros" da nossa vida, multiplicam-se os casos em que um especialista em matraquilhos é seleccionado para a equipa de futebol e o futebolista integre a equipa de ténis.
Na sociedade portuguesa, nos muitos "Janeiros" da nossa vida, multiplicam-se os casos em que uma equipa de basquetebol é formada por jogadores de futebol e treinada por um ex-ciclista. E depois admirem-se de ver os jogadores levar bicicletas para o campo…
Nota: Foto de Paulo Ricca, do «Público», afanada do Mente Despenteada II
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