O Presidente da República de Angola defendeu há meia dúzia de dias, dia 4, numa mensagem ao país, que Angola “pode dar um exemplo” ao continente e ao mundo “sobre a forma como realizar eleições democráticas, livres e transparentes”. Na altura escrevi que «O Presidente falou, e bem, para fora». Infelizmente é verdade, dentro as coisas são diferentes. Continuam diferentes.
Escrevi então que não vamos, obviamente, ver todos as mesmas coisas, acrescentando que por razões conhecidas, muitos jornalistas até já tinham um manual do que devem ver nestas eleições.
Por alguma razão o Jornal de Angola (JA), em cujo manual está escrito algo diferente do que Eduardo dos Santos disse ao mundo, afima que “no tempo de antena da UNITA, houve uma espécie de declaração de guerra, na voz de Isaías Samakuva”, tudo por que o líder da UNITA disse uma verdade que, apesar de indesmentível, não coincide com a que o MPLA comprou em Cuba com a cobertura da União Soviética.
Samakuva disse que “em 1975, um grupo de angolanos apoderou-se de Angola”. É a mais pura das verdades. Não houve acordo de Alvor, ou outro qualquer, que legitimasse a entrega unilateral por parte de Portugal do país ao MPLA, mas foi isso que aconteceu.
Lisboa, por ordem dos comunistas, meteu a bandeira debaixo do braço e o rabinho entre as pernas, passou o testemunho ao MPLA e esteve-se nas tintas para o que tinha assinado. Portanto...
Continuando, diz o JA que “é assim que o líder da UNITA vê a Independência Nacional”, ofendendo-se pelo facto de Samakuva afirmar que as suspostas obras de reconstrução nacional “só servem para roubar, para delapidar o fundo do tacho”.
Ao tomar as dores do MPLA, o JA mostra a quem ainda tivesse dúvidas, que não é um órgão ao serviço de Angola mas, isso sim, ao serviço do patrão, na circunstância o MPLA.
O ponto em que Eduardo dos Santos apelou para que, no período de campanha eleitoral, se continue “a manter a tranquilidade” e “uma atitude de respeito e tolerância em relação às opiniões que sejam diferentes”, foi retirado do manual dos sipaios que debitam textos no Jornal de Angola.
Aliás, em matéria de tolerância e respeito por quem pensa de maneira diferente, a situação em Angola é bem pior, muito pior, do que em 1992. Nessa altura ainda havia jornalistas que acreditavam no poder das ideias e não só nas ideias de poder. Desde então aprenderam a lição e, por isso, comem e calam ou, quando não calam... comem pela medida grossa.
Sem comentários:
Enviar um comentário