A situação está, como sempre esteve, como está há muitos anos, complicada na República Democrática do Congo. Complicada, entenda-se, sempre para os mesmos. Para o Povo que apenas quer sobreviver, que apenas quer ter alguma coisa para comer.
As forças da ONU aparecem agora também como vítimas porque, do ponto de vista militar, estão a levar uma carga de lenha, o mesmo se passando com os militares, nem todos congoleses, de Joseph Kabila.
Importa, contudo, relembrar que a ONU não funcionou neste conflito como força equidistante, como mediador. Funcionou como mais um dos braços armados de Joseph Kabila. As Nações Unidades tomaram as dores do Governo e, como era de esperar, na primeira oportunidade ficaram na linha de fogo dos revoltosos.
Recordam-se de, em Fevereiro de 2006, o representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas na RD Congo, William Lacy Swing, ter proposto ao governo de Joseph Kabila a constituição duma frente comum para "dar caça e capturar" o general Laurent Nkunda (foto)?
Recordam-se? Pois. Afinal, mais de dois anos passados, o caçador virou caça e o general Laurent Nkunda não só não foi capturado como continua a mostrar as garras.
Recordam-se de na mesma altura o então novo chefe do Estado-Maior das Forças da MONUC (Missão das Nações Unidas na RD Congo), o brigadeiro Christian Houydet, ter afirmado em Kinshasa que estavam a ser feitos esforços para capturar general Laurent Nkunda, e que isso seria conseguido com o apoio da comunidade internacional?
Pois é, o general Nkunda continua firme e lidera militares congoleses dissidentes que controlam uma parte do leste do país, sobretudo na província de Kivu-Norte, fronteiriça do Ruanda, país que nega estar a apoiar os rebeldes mas que, como todos sabem, os apoia mesmo.
Recorde-se também que a família Kabila foi colocada no Governo de Kinshasa pelos norte-americanos que pretendiam afastar o Presidente anterior, Mobutu Sese Seko. Laurent Desire Kabila seguiu o manual de instruções de Washington e desempenhou o seu papel.
No entanto, quando tomou o poder em Kinshasa, em 1997, recusou-se a cumprir as indicações que lhe tinham sido dadas. Em vez disso, desenvolveu novas relações com Cuba, China, Líbia e Coreia do Norte. Países que ele considerava como hostis aos EUA, dizendo: «Eu não trairei o meu povo.»
Mobutu também repetiu uma declaração semelhante quando decidiu afastar-se: «Eu estou a devolver o poder ao meu povo», tendo-se tornado uma máxima libertar-se do jugo americano quando ele nacionalizou os bens estrangeiros. Operação iniciada em 1970 que ficou conhecida como a «zairinização».
Esta mudança de atitude fez com que, obviamente, os subditos do tio Sam procurassem um mecanismo que pudesse ser usado para continuar a manobrar o governo. Estando Joseph Kabila no poder, o General Nkunda conta, seja via Ruanda ou outra qualquer (não faltam vias), com o apoio dos EUA.
Assim sendo, a paz neste país, nesta região, neste continente, só será alcançada se isso for do interesse das potência estrangeiras. Se não for... a guerra continua.
Assim sendo, a paz neste país, nesta região, neste continente, só será alcançada se isso for do interesse das potência estrangeiras. Se não for... a guerra continua.
1 comentário:
E é triste verificar que muitos rotulam Laurent Nkunda de várias coisas. Mas já se deram ao trabalho de ver o que ele diz, escreve? Já se deram ao trabalho de obter informações dos órgãos de comunicação dele? Já se deram ao trabalho de visitar o site da sua organização? Porquê a FLEC é boa e Laurent Nkunda não é? Porquê que a UNITA de Savimbi era boa e Laurent Nkunda não é? O filho de Kabila, o novo Kabila, o filho de Mobutu estão a governar o ex-Zaire. Mobutu pai foi um sanguinário corrupto ditador, Kabila não parece ser melhor. Não será que Laurent Nkunda tem de existir para mudar algo naquele país?
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