A jornalista brasileira Eliane Brum, que recebeu hoje o prémio ibero-americano de jornalismo por uma reportagem sobre o crescimento do islamismo entre a população negra do Brasil, considera que o galardão "reconhece um jornalismo de proximidade".
Tem razão. O jornalismo de proximidade, coisa rara em muitos países lusófonos, sobretudo em Portugal, dá voz a quem a não tem. Mas como isso é coisa que em muitos países não ajuda a vender, então o melhor é fazer um jornalismo que sirva para ampliar a voz dos que já se fazem ouvir bem e que, por sinal, são os donos do poder (económico, político, desportivo etc.).
"Hoje é cada vez mais difícil fazer um jornalismo que saia das redações", disse Eliane Brum à agência Efe, lamentando que haja "cada vez menos dinheiro para financiar grandes viagens e as reportagens que precisam de mais tempo de preparação".
É isso aí. O jornalismo é cada vez mais uma fábrica de textos e fotos de linha branca, quase sempre alimentada pelos especialistas ao serviço das diferentes verdades oficiais. E, por isso, não precisa nem sequer de ir ao fim da rua.
"Ganhar este prémio [seis mil euros] é um reconhecimento de que este é o melhor caminho para um jornalismo que foge aos lugares comuns", sublinhou Eliane Brum.
Ainda bem que, em língua (mais ou menos) portuguesa, há quem consiga perceber que no Jornalismo quem não vive para servir não serve para viver. Serve, contudo, para ser director, chefe de redacção ou administrador.
A reportagem de Eliane Brum, intitulada "O isla dos manos", foi publicada na revista Época a 2 de Fevereiro de 2009.
As argentinas Maria Arce e Paula Lugones, que receberam o prémio Rei de Espanha na categoria de Jornalismo Digital mostraram orgulho na distinção e afirmaram que a Internet não vai matar os jornais.
E não vai matar. Quem vai matar os jornais, quem já está a matar os jornais, são os jornalistas que a troco de um prato de lentilhas se deixaram transformar em produtores de conteúdos.
Por alguma razão em Portugal, por exemplo, uma das principais condições para se ser jornalista (para além do cartão do partido que estiver no governo) é fazer prova de que se tem uma coluna vertebral amovível...
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