A comunidade internacional (seja lá o que isso for) e sobretudo a CPLP (que todos sabemos ser um montanha que nem um rato consegue parir) entendeu que perante a morte do presidente da República, “Nino” Vieira, a Guiné-Bissau teria de voltar à estabilidade constitucional.
Seja qual for a crise, a resposta é sempre a mesma. Não se cura a enfermidade mas apenas se alivia a dor. Isto até que o doente pura e simplesmente... morra.
A tese é a de que os guineenses podem ser alimentados com votos, que as crises se resolvem com votos e que os votos são um milagroso remédio que cura todos os males.
O Ocidente, e neste caso particular da Guiné-Bissau a Europa e sobretudo Portugal, sabe que África teve, tem e continuará a ter uma História de autoritarismo que, aliás, faz parte da sua própria cultura e que em nada preocupa os fazedores da macro-política que se passeiam nos areópagos dos luxuosos hotéis do mundo.
Apesar disso, teima-se em exportar a democracia “made in Ocidente”, sem ver que a realidade africana é bem diferente. Vai daí, pela força dos votos os ditadores chegam ao Poder, ficam eternamente no poder e em vez de servirem o povo, servem-se dele. Ma como, supostamente, foram eleitos...
Mas será isso democracia? Por que carga de chuva ninguém se lembra que, por exemplo, na Guiné-Bissau as escolhas não são feitas com o cérebro mas com a barriga, ainda por cima vazia?
Foi neste contexto que “Nino” Vieira (tal como, entre muitos outros, José Eduardo dos Santos e Robert Mugabe) chegou a presidente e, tal como o seu homólogo, mentor e amigo angolano, por lá queria continuar com o beneplácito da tal Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
A estratégia de “Nino” Vieira falhou, mas outras aí estão no terreno com inegável pujança e com a histórica cobertura dos donos do poder em Portugal, na CPLP e no mundo.
Ninguém se lembrou, apesar de saberem (até por experiência própria) que “Nino” Vieira (tal como Eduardo dos Santos ou Robert Mugabe) era só por si uma enciclopédia de corrupção. Ninguém quis ver que “Nino” foi o único histórico do país que enriqueceu depois da independência, tornando-se o homem mais rico de um país miserável.
“Nino” vendeu e comprou as melhores empresas do país (Armazéns de Povo, Socomin, Dicol, Titina Sila, Cumeré, Blufo, Bambi, Volvo, Oxigénio e Acetileno, etc., etc.), tornando-se sócio do então presidente Lassana Conté, da Guiné-Conakry, para melhor traficar, entre outras riquezas, os diamantes da Serra Leoa.
Que conclusões terá tirado a CPLP e Portugal quando Carlos Gomes Junior, hoje novamente primeiro-ministro, disse que “era impossível coabitar com Nino Vieira que não passava de um bandido e de um mercenário que traiu o povo"?
Que conclusões terá tirado a CPLP e Portugal ao saber que, tal como se passou nas eleições angolanas, também “Nino” conseguiu em alguns círculos ter mais votos do que eleitores registados?
Pelos vistos à CPLP e a Portugal apenas interessa que se vote, nem que para isso se chamem os mortos, tal como recentemente aconteceu em Angola.
Se os votos foram comprados, isso pouco interessa. Se os guineenses votam em função da barriga vazia e não de uma consciente opção política, isso pouco interessa.
Para quem vive bem, para quem tem pelo menos três refeições por dia, o importante foi e será que os guineenses votem. Não importa o que aconteceu antes, o que está a acontecer agora e que voltará a acontecer um dia destes.
Não será, aliás, difícil antever que o sangue do povo guineense voltará a correr. Mas o que é que isso importa? O que importa é terem votado...
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