O ex-Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio, diz-se "nada satisfeito com a qualidade da democracia" no seu país, onde a sociedade civil é "pouco actuante" e os poderes políticos são influenciados por "sectores corporativos", como o da justiça.
O que Sampaio diz não é novo. Mas como o país, a sociedade, os produtores de conteúdos dão mais valor ao mensageiro do que à mensagem...
De facto, na política “made in Portugal” os seus actores (a grande maioria medíocre) estão para se servir e não para servir. É pena, mas é a verdade. É, aliás, meio caminho – entre outras coisas – para o fim da própria democracia. Mas como eles sabem que mesmo sem democracia, ou com ela coxa, os “mexiânicos” tachos vão continuar...
"Não estou nada satisfeito com a qualidade da democracia, temos que a requalificar, revitalizar. A começar pela renovação das dinâmicas e das estruturas partidárias. E há uma remobilização dos cidadãos que é necessária", sustenta Jorge Sampaio, em entrevista hoje à rádio Antena 1, a primeira de uma série de três a antigos Presidentes da República do pós-25 de Abril, cujo aniversário se assinala no domingo.
Em consciência nenhum português deve estar satisfeito com a qualidade desta coisa que, em Portugal, se chama democracia. Por alguma razão há cada vez mais portugueses de segunda e até de terceira. Apesar disso, os políticos jogam com o que consideram ser uma certeza imutável: os portugueses são um povo de brandos costumes.
Questionado sobre de quem é a culpa pelo estado da democracia em Portugal, Sampaio responde: "Somos todos naturalmente responsáveis."
Para Sampaio, é necessário que "os poderes políticos saibam resistir, pela seriedade das suas propostas, àquilo que são as profundas influências de sectores corporativos da sociedade portuguesa". E nomeia médicos, juízes, magistrados do Ministério Público, enfermeiros e funcionários públicos.
Em função desta realidade, mais negra a cada dia que passa, provavelmente os portugueses deveriam estar nas ruas a manifestar a sua indignação (creio, embora não tenha a certeza, que ainda têm esse direito) pelo aumento da pobreza, pelo custo de vida, pelo desemprego, pela crise, pela forma como são tratados.
Talvez pudessem até adoptar uma metodologia mais expressiva, saindo à rua, incendiando coisas, partindo outras e por aí fora. É claro que, em democracia (dir-me-ão sobretudo os que não têm os problemas financeiros que atingem a esmagadora maioria dos portugueses) a indignação não se manifesta com violência física.
E se não se manifesta com violência física, fica-se confinado a protestos limitados à urbanidade típica dos que, por força das circunstâncias, comem e calam. Até um dia. Sim, que a paciência dos brandos costumes lusos também tem limites. Aliás, por alguma razão se diz que quanto mais as pessoas se baixam, mais se lhes vê o mataco.
É claro que o primeiro-ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, arranja sempre maneiras, prenhes de urbanidade, de desviar as atenções dos aumentos constantes do custo de vida que "roubam" o direito a uma sobrevivência digna, e continua a ter estrategemas para atirar fumo para a chipala.
Estando o país, ou pelo menos parte dele, de tanga, que importa que existam em Portugal pelo menos dois milhões de pobres e que mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) de crianças estejam expostas ao risco de pobreza?
Estando o país, ou pelo menos parte dele, de tanga, que importa o facto de, a seguir à Hungria e à República Checa, Portugal ser o país europeu onde as pensões são mais baixas e seriam precisos em média mais de 110 euros por pessoa para fazer face às despesas domésticas básicas, uma realidade que mais uma vez tem maior incidência nas classes sociais mais baixas?
Ao fim e ao cabo, os portugueses são um povo solitário (mais de meio milhão vive sozinho), ingénuo (ainda acreditam em José Sócrates), lixado e mal e pago (bem mais do que 700 mil desempregados).
São e, pelos vistos, assim vão continuar...
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