Alcides Sakala, que conjuntamente com Abílio Camalata Numa e Adalberto da Costa Júnior, integram a comitiva da UNITA que está em Portugal, disse hoje que uma das suas tarefas é denunciar a corrupção e as violações de direitos humanos existentes em Angola.
Sakala expressou a "indignação" pela existência de "presos políticos" em Angola, concretamente em Cabinda, e disse que a delegação da UNITA também pretende apelar a uma solução política para o conflito naquela que é, digo eu, uma colónia do regime angolano do MPLA.
A autonomia para a “província” de Cabinda foi uma das propostas do anteprojecto de Constituição da UNITA, apresentado em Maio do ano passado em Luanda pelo seu líder, Isaías Samakuva.
Seria meio caminho andado... se os donos do poder da potência ocupante, Angola, a isso estivessem receptivos. Mas não estiveram nem estarão, tal é a ambição desmedida pelo poder.
A UNITA no seu anteprojecto de Constituição elegeu a descentralização político-administrativa de Cabinda, por entender que é, era, seria, a via para a resolução da "complexidade dos problemas históricos" do que chama enclave.
A proposta referia que só essa "descentralização" permite "maior agilidade, participação democrática e eficiência" na administração territorial e "consolidação da paz política e social" em Cabinda.
Talvez por ter sido escrita em português, a proposta da UNITA não conseguiu ser digerida pelos donos do poder que, diga-se, só falam uma língua: o mplaês.
E eu penso, desde há muito tempo, que Cabinda não faz parte de Angola e que, por isso, deve ser um país independente. Dir-me-ão alguns, sobretudo os que se julgam donos de uma verdade adquirida nos areópagos da baixa política angolana ou portuguesa, que isso é uma utopia.
Mais coisa menos coisa, são os mesmos que há umas dezenas de anos diziam o mesmo a propósito da independência de Angola, de Moçambique, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Timor-Leste. São os mesmos que há pouco tempo diziam algo semelhante a propósito do Kosovo. São os mesmos que nesta altura dizem o mesmo quanto ao País Basco.
Mas, tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por aqui alguém a falar da efectiva independência de Cabinda.
Até que esse dia chegue continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ou até mesmo da comunidade internacional.
Portugal continua, como vem sendo hábito recente, de cócoras porque – com razão – teme que qualquer hostilidade em relação ao soba de Luanda possa fazer com que Angola retire a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre Portugal. E se isso acontecer será uma chatice.
É por isso que Cabinda nunca consta oficialmente da agenda de encontros oficiais entre o consórcio que lidera a OPA e as entidades que gerem Portugal, caso do Governo e do presidente da República.
Eu sei que, no contexto africano, Portugal é do ponto de vista prático uma carta fora do baralho. Cada vez mais o poder do MPLA entende que as autoridades portuguesas fazem tudo o que ele quiser. Até agora tem sido assim. Até conseguem que Anibal Cavaco Silva, enquanto presidente da República, quando fala de Angola sinta necessidade de esclarecer que o país vai de Cabinda ao Cunene...
Louvo, apesar de tudo, que a delegação da UNITA que se encontra em Portugal tenha tido a coragem de falar dos presos políticos em Cabinda.
Ninguém, como é óbvio, vai ouvir o que Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior e Alcides Sakala têm a dizer sobre Cabinda.
Mas, como dizia o Mais Velho, ainda é a dor que nos faz andar, ainda é a angústia que nos faz correr, ainda são as lamúrias e as lamentações, que de vários cantos do país nos chegam, que nos fazem trabalhar; ainda é a razão dos mais fracos contra os mais fortes que nos faz marchar.
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