O secretário-geral da UNITA, Abílio Camalata Numa, avisou hoje Portugal que não se deve concentrar apenas nas relações com o MPLA e o actual governo angolano relegando para segundo plano o relacionamento com aquele partido da oposição.
Esta legítima posição da UNITA revela, contudo, grande desconhecimento da metodologia seguida pelo governo socialista de Portugal que, como é público, entende que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola. Tudo o resto é paisagem.
"Os interesses de Portugal não acabam com o MPLA nem com o Governo de José Eduardo dos Santos", disse Camalata Numa à Agência Lusa no final de reuniões que manteve em Bruxelas com responsáveis do governo belga e deputados do Parlamento Europeu.
Camalata Numa tem razão. Esquece-se, contudo, que o que está em questão não são os interesses de Portugal e muito menos os dos portugueses. Os interesses do governo de José Sócrates, com a natural conivência do presidente da República, Cavaco Silva, não têm a ver nem com os portugueses nem com os angolanos.
A única relação que interessa a Lisboa é a que resulta de quem está no poder, de quem manda no país, mas sobretudo no petróleo. Importa, ainda, não esquecer que uma importante e estratégica parte da economia de Portugal está nas mãos das empresas do regime, das empresas do MPLA.
Referindo-se à visita a Angola do Presidente da República Portuguesa, prevista para se realizar este ano, o membro do parlamento angolano e secretário-geral da UNITA considerou que Aníbal Cavaco Silva é "um dos melhores estadistas portugueses e saberá interpretar melhor os interesses" do seu país.
Novo engano. Cavaco Silva, para além de considerar que Angola se estende de Cabinda ao Cunene, um pouco à semelhança de António de Oliveira Salazar para quem Portugal começava no Minho e acabava em Timor, está interessado em não hostilizar quem pode a todo a momento lançar uma Oferta Publica de Aquisição sobre Portugal, ainda mais numa altura em que o país já vê no horizonte o espectro da bancarrota.
"Portugal deve manter uma relação com Angola de futuro e nós fazemos parte desse futuro, e [os portugueses] não deviam olhar com negligência para aquilo que a UNITA poderá representar nos próximos tempos", declarou Numa.
Camalata Numa, talvez em função do que se passa em Angola, confunde os portugueses com os que governam Portugal. E até mesmo esses, os portugueses, estão mais preocupados m arranjar quem os ajude, admitindo mesmo que qualquer ajuda será bem-vinda, mesmo que enviada pelo MPLA.
Abílio Camalata Numa que foi general das ex-Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), antigo braço armado da UNITA, afirmou que nos encontros que manteve em Bruxelas deu conta das suas preocupações sobre a situação em Angola, nomeadamente no que diz respeito à falta de liberdade de imprensa, de liberdades sociais e a situação de pobreza extrema da maior parte da população do país.
Ou seja, Camalata Numa limitou-se a dizer o que todo o mundo sabe. Sabe mas faz de conta que não sabe. E faz de conta porque, entre outras razões, o petróleo compra os silêncios e até mesmo a dignidade de muitos.
A comitiva da UNITA, que inclui Adalberto da Costa Júnior e Alcides Sakala, também estará em Portugal, certamente na vã tentativa de mostrar aos portugueses que existe vida para além do petróleo, para além do MPLA.
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