O presidente moçambicano e líder do partido que governa Moçambique, Frelimo, desde a independência, Armando Guebuza, considerou hoje em Lisboa que a possível adesão da Guiné Equatorial à CPLP poderá servir para aquele país "melhorar o seu relacionamento", nomeadamente no que diz respeito aos direitos humanos.
Boa! É assim mesmo. Olhai para o que dizemos e não para o que fazemos. Para além de se saber que a força da Guiné Equatorial está no petróleo, se calhar sabe bem a alguns ser enganados por mentiras que tentam ser pela insistência uma verdade.
Questionado sobre se concordava com a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de um país que é referenciado pelas organizações internacionais no que respeita à violação dos direitos humanos, Guebuza disse acreditar que a Guiné Equatorial vai "fazer tudo para se conformar com aquilo que são as normas na CPLP".
Normas de quê? De quem? Da CPLP? Mentir é uma coisa, gozar com a nossa chipala é outra, por sinal bem diferente.
Ninguém se atreve, como é timbre do jornalismo português, a perguntar a Guebuza e a Cavaco Silva se acham que Angola respeita os direitos humanos ou se é possível que a presidência da CPLP vá ser ocupada, ainda este ano, por um país cujo presidente, José Eduardo dos Santos, no poder há 31 anos, não foi eleito.
Sobre a mesma questão, o Presidente português escusou-se a antecipar a decisão dos chefes de Estado e de Governo, que vão analisar a proposta de adesão da Guiné Equatorial na próxima cimeira da CPLP, em Julho, em Luanda, mas advertiu que todos os Estados interessados em aderir à comunidade "têm que ter em atenção os estatutos na CPLP".
Advertiu quem? Os que querem entrar? E então os que já lá estão? Será que o que se passa, por exemplo, em Cabinda com execráveis violações dos direitos humanos, é uma questão menor?
É claro que é uma questão menor. Ou não fosse o MPLA dono de Angola, ou não fosse Angola a potência petrolífera que é, para além de ser o primeiro mercado importador de bens portugueses fora da Europa, tendo já passado os EUA.
A verdade, incómoda para os donos do poder, seja em Portugal, Moçambique ou Angola, é que a CPLP está a ser utilizada de forma descarada para fins comerciais e económicos, de modo a que empresas portuguesas, angolanas e brasileiras tenham caminho livre para entrar nos novos membros, caso da Guiné Equatorial.
Reconheço, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição sine qua non para comprar o que bem entender.
Há quem defenda, certamente à revelia dos mais altos interesses petrolíferos, que o caso da Guiné Equatorial deveria ser alvo de uma reflexão mais profunda. Não vejo para quê.
Para aderir, o país terá de adoptar o português como língua oficial, a par do espanhol e do francês e, no âmbito de um acordo assinado em 2009, Portugal disponibilizou-se para enviar professores de português e apoiar a formação de quadros do país africano em universidades portuguesas ou do espaço lusófono, através do Fundo da Língua Portuguesa.
Consta, aliás, que para combater o desemprego em Portugal (700 mil) o Governo vai aumentar a oferta numérica de professores, estando inclusive a pensar numa campanha internacional do estilo: Adira à CPLP que nós exportamos professores. Creio que o Uzbequistão já manifestou interesse.
Governada, como Angola, há mais de 30 anos por Teodoro Obiang Nguema, a Guiné Equatorial é frequentemente acusada por organizações não governamentais de corrupção e atentados aos direitos humanos.
E se isto nada significa em relação a Angola, convenhamos que não pode servir de obstáculo à entrada da Guiné Equatorial.
Legenda: Dois velhos amigos: Robert Mugabe e Armando Guebuza
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