O texto que se segue foi aqui (onde mais poderia ser?) publicado no dia 31 de Dezembro de 2008 sob o título Crise? Que crise? Onde?. E as únicas alterações registadas são o anúncio de um, mais um, despedimento semi-colectivo e as férias de Verão. A bem, é claro, da Nação dos filhos e da miséria dos enteados.
Mesmo quando (não) existem, as crises têm sempre duas faces. Também nestes casos, o pão dos portugueses quando cai ao chão tem sempre a manteiga virada para baixo. Se sempre assim foi, porque razão agora seria diferente?
Vem isto a (des)propósio de um telefonema que acabo de receber de um amigo, empresário no norte de Portugal, cuja empresa está – diz ele – em crise e que pode ser obrigado a despedir umas dezenas de empregados.
“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”, contou-me ele.
“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas.
“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse-se o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.
Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.
Antes de, apesar de tudo, lhe desejar boa sorte, perguntei-lhe a medo onde iria passar as férias de Verão. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.
“Vou para Cuba”, respondeu-me.
“Como? Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.
“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem vai gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.
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