O jornalista Mário Crespo manifestou-se hoje satisfeito com o parecer emitido pelo Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, segundo o qual o director do "Jornal de Notícias" (JN) actuou de forma “censória” ao recusar a publicação de uma sua crónica.
“É-me muito grato que o Conselho Deontológico tenha analisado do mesmo modo que eu senti o que estava a acontecer. Para mim, foi um acto inexplicável de censura, tanto quanto censura é omissão de noticiário ou matéria editorial por razões políticas ou de correção política. É a adulteração do fluxo informativo do país e foi isso que o diretor do Jornal de Notícias fez”, declarou Mário Crespo à agência Lusa.
O caso remonta a 1 de Fevereiro, quando José Leite Pereira, diretor do JN, onde Mário Crespo mantinha uma coluna semanal, se escusou a publicar uma crónica intitulada “O Fim da Linha”, em que o jornalista acusa membros do Governo de terem falado depreciativamente sobre ele durante um almoço realizado em Lisboa.
Na opinião do jornalista, a atitude “foi grave, porque foi uma omissão de matéria informativa importante, de matéria analítica importante também e que privou os leitores do "Jornal de Notícias" de uma peça que seria importante para formularem a sua imagem referente à condução da informação pública por parte do Governo, e nisso o "Jornal de Notícias" foi conivente”.
O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas considerou que “a decisão do director do JN - que sempre respeitou as anteriores crónicas de Mário Crespo porque ‘era a sua opinião’ - ancorou-se no que considera ‘margem de intervenção para o director’, ou seja nas prerrogativas inerentes ao cargo de ‘orientar, superintender e determinar o conteúdo da publicação’”.
No entanto, “e do ponto de vista da liberdade de expressão constitucionalmente consagrada”, José Leite Pereira optou “por uma atitude censória”, concluiu o Conselho Deontológico.
No seu parecer, o Conselho Deontológico assinala ainda que “a crónica é um género opinativo cuja responsabilidade cabe ao seu autor, não sendo por isso exigível a ‘audição das partes atendíveis’”, além de que o texto de Mário Crespo “denuncia um relacionamento acintoso que o primeiro ministro, figura pública, tem manifestado com a comunicação social, o que constitui um dos deveres dos jornalistas”.
“Atendendo a uma longa e reconhecida colaboração de Mário Crespo, sem reparos e no respeito pela liberdade de expressão, mesmo se as suas crónicas continham críticas severas ao primeiro ministro e ao Presidente da República, o Conselho Deontológico não encontra motivos objectivos que justificassem a decisão do director do JN de não publicar a crónica em causa”, lê-se ainda no documento.
Mário Crespo declarou esperar que esta deliberação “tenha o devido eco, sobretudo na Comissão de Ética [da Assembleia da República], onde o assunto foi tropedeado de variadíssimas maneiras por parte de alguns parlamentares mais comprometidos politicamente, nomeadamente com o Partido Socialista”.
“Houve uma tentativa brutalíssima de me desacreditar através do antigo secretário de Estado [da Comunicação Social] Arons de Carvalho”, sublinhou ainda o jornalista, acrescentando ter esperança de que “esta leitura isenta de um órgão jornalístico tenha o seu impacto” e uma situação como a que viveu “não volte a acontecer em Portugal nunca mais, pois é intolerável”.
Fonte: Jornal Público
Legenda: Mário Crespo na comissão de Ética da AR, distribuindo a sua crónica
Foto: Pedro Cunha
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