Margaret Thatcher, que em Maio de 1979 se tornou a primeira mulher a dirigir um governo britânico, proibiu nesse ano o seu enviado especial à Rodésia de se encontrar com Robert Mugabe. O argumento, repare-se, era o de que "não se discute com terroristas antes de serem primeiros-ministros".
"Não. Por favor, não se reúna com os dirigentes da 'Frente Patriótica'. Nunca falei com terroristas antes deles se tornarem primeiros-ministros", escreveu - e sublinhou várias vezes - numa carta do Foreign Office de 25 de Maio de 1979 em que o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Lord Peter Carrington, sugeria um tal encontro.
José Marcos Barrica, actual embaixador de Angola em Portugal, diplomata da confiança do presidente do MPLA, chefiou em Março de 2008 os observadores eleitorais da África austral nas eleições presidenciais do Zimbabué.
O (in)sucesso da sua missão poderá ter estado, aliás, na origem da sua passagem de ministro dos Desportos a embaixador em Portugal.
Na altura, certamente com toda a legitimidade mas contra todas as informações independentes que chegavam do Zimbabué, José Marcos Barrica afirmou que as “eleições foram uma expressão pacífica e credível da vontade do povo”.
Também à revelia das informações que chegavam do reino de Robert Mugabe, José Marcos Barrica disse que as eleições foram “caracterizadas por altos níveis de paz, tolerância e vigor político dos líderes partidários, dos candidatos e dos seus apoiantes.”
Barrica não perdeu, aliás, a oportunidade para salientar que “as eleições foram realizadas contra um pano de fundo caracterizado por um clima internacional muito tenso e bi-polarizado onde alguns sectores da comunidade internacional permanecem negativos e pessimistas quanto ao Zimbabué e às possibilidades de as eleições serem credíveis”.
Como se viu, vê e verá, José Marcos Barrica teve, tem e terá razão quanto à democraticidade, legalidade, pacificação e futuro do regime de Mugabe.
Recordo igualmente que José Marcos Barrica considerou que “as eleições foram conduzidas numa forma aberta e transparente”, congratulando-se com o facto de a Comissão Eleitoral do Zimbabué “satisfazer os desafios administrativos de levar a cabo as eleições harmonizadas e demonstrar altos níveis de profissionalismo”.
“O grande vencedor é o povo do Zimbabué”, concluiu na altura o chefe dos observadores eleitorais da África austral nas presidenciais do Zimbabué e agora embaixador de Angola em Portugal.
Entretanto, há pouco mais de um ano (1 de Março de 2009) o dono do Zimbabué, afirmava que as apreensões das explorações agrícolas dos brancos iam continuar, apesar da oposição do novo primeiro-ministro do governo de coligação, Morgan Tsvangirai.
"Há explorações agrícolas que foram designadas (para serem distribuídas) de acordo com a lei da aquisição das terra, das cartas de oferta enviadas aos novos agricultores. Não vamos deixar que os antigos proprietários destas fazendas recusem abandoná-las", declarou Mugabe perante os milhares de partidários reunidos para celebrar o seu 85º aniversário.
"Não vamos ouvir as desculpas que alguns agricultores usaram para apelar à justiça perante a SADC (Comunidade da África Austral). É insensato. Temos a nossa própria justiça aqui", disse o dono daquele coisa que já foi um país, que já foi o celeiro de África, e que hoje á o maior exportador mundial de refugiados.
Mugabe lançou em 2000 uma reforma agrária retirando explorações de agricultores brancos para a dar a zimbabueanos negros.
A questão das terras é extremamente sensível no Zimbabué, onde a minoria branca conservava a maioria das terras aráveis, desde a independência, em 1980. Cerca de 4.000 agricultores brancos foram já obrigados a abandonar as suas explorações agrícolas desde que começou a reforma agrária de Mugabe.
O Zimbabué está actualmente mergulhado numa crise humanitária dramática e a maioria dos seus 13 milhões de habitantes precisam de ajuda com urgência, de acordo com dados do Programa Alimentar Mundial.
Na altura, Morgan Tsvangirai apelou à paragem imediata dos ataques contra os agricultores brancos. Apelo não escutado porque, perante a cobarde passividade da comunidade internacional, quem manda é o dono daquilo.
Dono que se está nas tintas para o povo que continua a morrer à fome.
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