O Jornal de Angola, a pedido do dono (o regime do MPLA), chama hoje a atenção no seu editorial para a discrepância entre as palavras elogiosas de alguns embaixadores acreditados no país ao Governo angolano e os “relatórios dos departamentos de Estado desses países”.
No editorial não é feita qualquer alusão directa aos diplomatas que protagonizam estas discrepâncias, mas alerta para a ideia de que o posicionamento “desses países” é contrário aos elogios feitos pelos seus embaixadores.
Assim, o MPLA não está a achar grande piada aos representantes diplomáticos que estão a cuspir no prato que lhes dá lagosta e a ofender os amigos que lhes fornecem a “fruta” com que se de(le)itam.
“Acreditamos que os senhores embaixadores fazem relatórios para os seus governos em linha com os elogios públicos que dispensam ao nosso Governo e ao nosso povo. Mas, pelos vistos, os relatórios tornados públicos dos departamentos de Estado desses países, são contrários aos elogios”, nota o texto que não está assinado.
Nota com toda a razão. A diferença é que, em cada vez menos casos – é verdade, é muito mais fácil comprar representantes diplomáticos e similares do que governos. Portugal é, convenhamos, uma excepção.
O Jornal de Angola sublinha ainda que o embaixador norte-americano em Angola, Dan Mozena, “tem sido o diplomata que mais se tem desdobrado em acções de solidariedade, simpatia e elogios rasgados” aos governantes e ao povo angolanos.
Habilidosamente, o JA cola o povo angolano a uma guerra que não é a dele. Desde logo porque o regime do MPLA está-se nas tintas para o povo. É claro que, neste contexto, fica sempre bem falar do povo.
“Ficámos a saber que alguns países com quem Angola tem relações diplomáticas acreditam mais em associações que são pagas para embaciar a imagem de Angola do que nos seus honrados e competentes embaixadores. Esperamos, pacientemente, que aquilo que está mal se regenere rapidamente e o bom senso se associe ao respeito que todos os países e povos merecem”, diz o órgão oficial do regime do MPLA.
Que chatice. Tratem lá de desembaciar a (im)poluta imagem do regime; tratem de demonstar que na colónia angolana de Cabinda não há activistas dos direitos humanos presos; tratem de mostrar que é falso que Angola tenha estado em 2008 na posição 158 no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, e que, em 2009, tenha passado para a 162...
“Não fica bem a nenhum país desenvolvido gastar fortunas colossais em campanhas de liquidação de governos e regimes que lhes são adversos ou suspeitam que venham a ser”, adverte o editorial do Jornal de Angola, certamente reproduzindo o texto enviado pela direcção do partido e do regime que (des)governa Angola desde 11 de Novembro de 1975.
Aliás, por muito que digam o contrário organizações do tipo Human Rights Watch, todo o mundo sabe que, por exemplo, é falso que 68% (68 em cada 100) de angolanos sejam gerados com fome, nasçam com fome e morram pouco depois com fome.
Tal como é falso que 45% das crianças angolanas sofram de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Tal como é falso que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, ao cabritismo, seja o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Tal como é falso que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, esteja limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Sem comentários:
Enviar um comentário