sábado, abril 24, 2010

De falência em falência a caminho da Grécia

Portugal, e não me estou a referir aos emblemáticos casos de António Mexia ou João Rendeiro, continua a somar pontos no sentido de mostrar que os portugueses vão ver-se gregos para dar a volta à crise.

Ficou agora a saber-se, o que nem sequer causa espanto, que o número insolvências de empresas cresceu 7,7 por cento no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período do ano passado.

O número de insolvências em território português foi de 821 em 2008, 1 122 no ano passado e 1 209 até 17 de Abril de 2010. Mas uma vez, e como começa a ser um hábito, o Porto é o distrito que mais insolvências registou este ano, ou seja 288, seguido de Lisboa com 233 e Braga com 175.

Que a economia portuguesa entrou, entra e entrará, mais uma vez e sempre para o lado dos mais fracos, em derrapagem e que, a todo o momento, pode fazer mais um buracão no fundo negro em que se encontra, já todos sabem, incluindo (espero, embora sem ter a certeza) os líderes políticos do país.

Se calhar o país ainda está a tempo de evitar que o povo saia à rua para, ao estilo recente da Grécia, dizer que não podem ser sempre os mesmos a pagar a crise.

Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado (700 mil desempregados, 20% da população na pobreza, desemprego a atingir os 11% este ano). Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (políticos, banqueiros, administradores, gestores e empresários).

Chegados a esta fase negra, já pouco pode ser feito. Cá para mim, como não é possível mudar de país, o melhor mesmo é mudar de políticos... para começar.

Mas mesmo assim a coisa está feia. É que a esmagadora maioria dos políticos portugueses é farinha do mesmo saco. Às segundas, quartas e sextas viram à direita, às terças, quintas e sábados à esquerda e ao domingo vagueiam pelo centro.

Portanto, se calhar o melhor mesmo é mudar de sistema. É que, convenhamos, entre um sistema em que poucos roubam e um em que muitos roubam, não me parece difícil escolher.

E para a economia voltar a funcionar é urgente dar oportunidade ao primado da competência e não, como o fazem os últimos governos das ocidentais praias lusitanas, ao da filiação partidária, do compadrio, da corrupção e de outras virtudes paridas no calor das noites horizontais.

Eu sei que agora rouba-se... democraticamente. Se calhar, a fazer fé no exemplo lusitano, a democracia inventou-se exactamente para isso: para se poder roubar à vontade.

E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher.

E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...

1 comentário:

Calcinhas de Luanda disse...

O políticos de um país são sempre em grande parte um reflexo da população desse país. E esse é o problema de Portugal e por alguma similitude cultural o do Brasil , o de Angola, etc.
É uma espécie de pescadinha de rabo na boca. Maus políticos não estão interessados na formação cultural e cívica dos jovens para que se mantenha o status quo. A população daí resultante tem pouca visão para o país e vota naqueles que conhece e com os quais de certo modo se identifica, inconscientemente por força da tal má formação escolar que recebeu, e a situação vai-se eternizando. Por vezes há convulsões que podem ou não levar a alterações radicais. Mas tal de facto nunca aconteceu em Portugal nos últimos 100 anos. O 25 de Abril teve principalmente a ver com o problema colonial, Portugal, so seu mais profundo, o compadrio, os esquemas, os ricos pouco cultos e poucos interessados no verdadeiro desenvolvimento do país, tudo isto se manteve. Bastava ver que três décadas depois da revolução as diferenças sociais e económicas aumentaram.
Os portugueses espertos, tal como antes do 25 de Abril, "voltaram a votar com os pés". E pior, antes "quem votava com os pés" tinha pouca formação cultural, cívica e profissional. Agora é o oposto!
E consequentemente o descalabro é uma forte possibilidade.