sexta-feira, abril 16, 2010

É mais o que os une do que o que os separa

A união, não de jure mas de facto, entre este Partido Socialista e o Bloco de Esquerda mostra que, apesar de alguns arrufos, José Sócrates e Francisco Loução têm muito em comum, nem que seja em matéria de hipocrisia política.

No que ao dito Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) respeita, o PSD acendeu a luz verde para a passagem socialista e, no cruzamento seguinte, o PS virou à esquerda e deu boleia ao BE.

No entanto, como a vida política portuguesa é feita de cruzamentos, muitos deles bem mal paridos, este PS não se inibe de virar à direita quando for conveniente, mesmo que para isso tenha de atropelar os peões, estejam ou não na passadeira.

As imposições previstas no PEC, e Bruxelas – tal como António Mexia - ainda acha que são poucas, representam na sua esmagadora maioria o oposto daquilo que o PS proclamou em tempo de eleições, já com a crise instalada com armas e bagagens em Portugal.

Os reformados, por exemplo, vão pagar mais IRS (e ainda há quem diga que não aumentam os impostos) e só quem recebe menos de 570 euros por mês fica isento.

Ainda no anterior governo, e não foi – se se recordam assim há tanto tempo - o primeiro-ministro prometeu aumentar as deduções fiscais da classe média e cortar nas dos ricos. Na altura os portugueses ficaram satisfeitos. A promessa (não passou disso) era tirar aos poucos que têm muitos milhões para dar aos muitos milhões que têm pouco ou nada.

Entretanto, ganhas as eleições, tudo ficou virado do avesso. José Sócrates dá o dito por não dito e de opositor ao corte dos benefícios fiscais passa a acérrimo defensor, dizendo até que isso não é (já ninguém se espanta) um aumento, mesmo que indirecto, dos impostos.

Com total liberdade mas, pelo sim e pelo não, à boca pequena, muitos socialistas reconhecem que o corte nas deduções e nos benefícios fiscais vai afectar todos os contribuintes a partir do segundo escalão de IRS. Só escapam, por enquanto, os que ganham menos de 570 euros por mês.

Mas, apesar de estarem a ser obrigados a aprender a viver sem comer, os portugueses são, ou pelo menos parecem, um povo de brandos costumes. Até um dia, espero eu.

É claro que, como disse Augusto Santos Silva, a oposição "sucumbe à demagogia". Demagogia que, como todos sabem, é uma característica atávica de todos os portugueses de segunda, ou seja, de todos aqueles que não são do PS.


"A direita falha em critérios essenciais na resposta à actual crise, começando logo por falhar no requisito da iniciativa", sustenta o maior (a seguir a José Sócrates) perito dos peritos portugueses, considerando que PSD e CDS-PP também não assumem uma defesa do princípio da "equidade social" ao proporem baixas generalizadas de impostos.

Brilhante. Melhor do que Augusto Santos Silva como catedrático do anedotário português só mesmo... José Sócrates.

Já em relação ao PCP e Bloco de Esquerda, forças políticas que disse pertencerem "à esquerda extremista", o agora ministro da Defesa, disse em Agosto do ano passado (será que ainda diz?) que "propõem o regresso ao paradigma colectivista".

"Estão cegos por preconceitos ideológicos que os impediram de perceber o quanto foi essencial estabilizar o sistema financeiro para responder à crise", garantia Santos Silva.

Ora aí está. Bons só mesmo os socialistas. Todos os outros são uma escumalha que não merece sequer ser considerada como portuguesa.

"O PS é portador de uma liderança e de uma plataforma política para mobilizar o conjunto da sociedade", sustenta o ministro. E sustenta bem, e isto já para não falar da sua própria sustentação e luta para manter o tacho. Creio, contudo, que os tais portugueses de segunda já perceberam que este PS não é uma solução para o problema. É, isso sim, um problema para a solução.

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