Ângelo Correia foi a Angola, em Setembro do ano passado, dizer o óbvio (que apesar de o ser não é verdadeiro) e, com isso, dar prazer aos que gostam de quem está sempre de acordo.
Sendo Ângelo Correia (pelo menos) o braço direito do novo líder do PSD e eventual primeiro-ministro de Portugal, seria bom que Pedro Passos Coelho dissesse alguma coisa sobre Angola e, já agora, também sobre Cabinda.
Em Luanda, capital do reino do MPLA, Ângelo Correia considerou no dia 27 de Setembro “legítimos e legais” os investimentos feitos por empresas angolanas em Portugal.
Em declarações à imprensa no âmbito das palestras sobre o ambiente que realiza na capital angolana, o ex-ministro da Administração Interna do PSD, afirmou “não existir nada no ordenamento jurídico português” que impeça empresários estrangeiros investirem no mercado luso, procurando gerar capitais e conhecimentos.
“Da mesma forma que os portugueses investem em Angola, é legitimo que os angolanos o façam também no nosso país. Os benefícios são mútuos e em alguns casos Portugal sai mesmo a ganhar porque recebe investimentos em áreas onde não tem produção”, sublinhou, apontando o sector petrolífero como exemplo.
Considerando “reaccionárias” as pessoas que se manifestam contrárias ao investimento angolano em Portugal, Ângelo Correia referiu-se ao investimento da petrolífera angolana Sonangol na Galp, como sendo uma iniciativa que ajuda a reforçar os laços de cooperação entre os dois estados.
“Nada está a acontecer à margem da lei, portanto, é legítimo que os angolanos escolham determinadas áreas para investir. Quem se manifesta contra é porque ainda vive no passado e deve, por isso, actualizar-se. Estamos num mundo globalizados e num mercado aberto para todos”, disse o (pelo menos) braço direito do actual presidente do PSD.
Com tantos floreados, até parece que tudo é transparente nos investimentos feitos em Portugal. Parece mas não é. Ângelo Correia sabe isso muito bem. Mas, é claro, há coisas que se sabem mas não se dizem, sobretudo porque isso poderia ser visto como estar a cuspir no prato onde se come.
Será que Pedro Passos Coelho vai seguir o mesmo discurso? Era bom que os portugueses, pelo menos eles, soubessem com o que podem contar.
Ao contrário do que diz Ângelo Correia, ninguém põe em causa os investimentos angolanos em Portugal. O problema está em que não são investimentos angolanos, são investimentos de uma família e de meia dúzia de amigos que quase representa 100 por centro do Produto Interno Bruto de Angola.
Fossem, de facto, empresas angolanas e tudo estaria bem como pretende Ângelo Correia dizer que agora está. Mas não são. São de um clã.
Aliás, já que se fala de Portugal, quantas empresas tem o homólogo português de José Eduardo dos Santos? Que percentagem do PIB português representa, por analogia com o presidente angolano, Cavaco Silva?
Ao contrário de Ângelo Correia, os reaccionários não estão contra as empresas angolanas. Estão isso sim (e até ficava bem Ângelo Correia estar também desse lado) contra o facto de haver meia dúzia de pessoas, todas ligadas ao clã Eduardo dos Santos, que são donas de Angola.
E para mim, reaccionário assumido, Angola só tem um dono: todos os angolanos.
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