A Assembleia Nacional angolana aprovou no dia 5 de Março, em Luanda e com o devido destaque propagandístico da imprensa do regime e não só, por unanimidade, a Lei da Probidade Administrativa, que visa (dizem os donos do poder) moralizar a actuação dos agentes públicos angolanos.
Dizem eles, os donos do poder, que o objectivo da lei é conferir à gestão pública uma maior transparência, respeito dos valores da democracia, da moralidade e dos valores éticos, universalmente aceites.
O presidente da República de Angola há 31 anos, do MPLA (partido no poder desde 1975) e chefe do Executivo angolano (para além de outros cargos), José Eduardo dos Santos, quando deu posse (dia 8 de Fevereiro) ao novo Governo reafirmou a sua aposta na "tolerância zero" aos actos ilícitos na administração pública.
Apesar da unanimidade do Parlamento, eu vou fazer o que faço habitualmente quando chegam notícias sobre a honorabilidade do MPLA, esperar (sentado) para ver se nos próximos dez anos (sei que estou a ser optimista) a "tolerância zero" sai do papel em relação aos donos dos aviários e não, como é habitual, no caso dos pilha-galinhas.
Para já, com a determinação que os angolanos de segunda e terceira bem conhecem, Eduardo dos Santos avança com a Lei da Probidade Administrativa. Que se cuidem os Estados de Direito e as democracias...
Essa lei “define os deveres e a responsabilidade e obrigações dos servidores públicos na sua actividade quotidiana de forma a assegurar-se a moralidade, a imparcialidade e a honestidade administrativa". É bonito. Digam lá que não parece um Estado de Direito?
Mas alguém acredita? Mas alguém está interessado? Acreditarão nisso os 68% (68 em cada 100) dos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome?
Acreditarão nisso as 45% das crianças angolanas que sofrem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?
Se calhar não acreditam. Têm, contudo, de estar caladinhos e nem pecar em pensamentos. Mas acredita, diz, José Eduardo dos Santos, E isso basta. Se calhar agora a Lei da Probidade Administrativa fará que Angola passe da posição 158, no “ranking” que analisa a corrupção em 180 países em 2008, para a... 162 em 2009.
Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos aqueles que sabem, até mesmo os que dentro do partido batem palmas à ordem do chefe, que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?
Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa os que sabem que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões?
Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos os que sabem que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?
Também não interessa se acreditam ou não. O importante é que o MPLA recebeu os encómios das países acocorados perante o petróleo angolano (parte roubado na sua colónia de Cabinda), desde logo de Portugal. Sendo que, no caso do reino lusitano, se calhar os parabéns do seu “rei” vão voltar a falar de Angola “de Cabinda ao Cunene”.
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