O pediatra do desenvolvimento Miguel Palha congratulou-se hoje com o acordo dos líderes parlamentares portugueses de evitarem a utilização da palavra autismo como ataque político, lembrando que este uso é “absolutamente inapropriado” e “achincalha” quem vive esta doença.
O autismo é, penso eu, uma desordem global do desenvolvimento neurológico, sendo que é uma alteração cerebral que afecta a capacidade da pessoa comunicar, estabelecer relacionamentos e responder apropriadamente ao que a rodeia.
Estou de acordo. É bom não achincalhar seja quem for. Acrescento, como mera sugestão, outros termos que devem ser banidos ou, pelo menos, evitados:
“Cegueira” (os cegos não têm culpa de os políticos apesar de verem serem cegos); “burro, camelo, carneirismo” (para não ofender os animais propriamente ditos); “coxos” (mesmo que o sejam só do ponto de vista intelectual) e “negra” (mesmo sendo apenas uma referência a campanhas contra o primeiro-ministro).
Os líderes parlamentares acordaram hoje evitar utilizar a palavra autismo como ataque no debate político, em resposta a um apelo feito pelo deputado da bancada do PSD Luís Carloto Marques.
Para Miguel Palha, a notícia não podia chegar em melhor hora, já que a Associação Diferenças, que dirige, elaborou um filme em que apela aos agentes públicos, entre os quais os políticos, para deixarem de utilizar o autismo como um adjectivo pejorativo.
“É como chamar a alguém tuberculoso, sidoso ou reumático, pois o autismo é uma doença”, disse, lamentando igualmente expressões que ainda são utilizadas pelos portugueses como “tu és um atrasado mental”.
Manda o bom senso que haja tento na língua. Mas que há (eu diria cada vez mais) políticos e similares que querem fazer de todos nós verdadeiros atrasados mentais, isso há.
Miguel Palha revelou que o uso desta palavra (autismo) provoca situações “indesejáveis” nos doentes e nos familiares e amigos dos autistas, conhecedores da realidade desta doença.
Tem razão. Ninguém no pleno uso das suas faculdades mentais aceitaria que dissessem: - és um socretino, um socrático ou até talvez um engenheiro civil.
“Chamar autista a outro para o ofender achincalha e vexa os doentes autistas e as pessoas que convivem com eles”, acrescentou. É verdade. E como sinónimos não faltam, a palavra em questão pode muito bem ser substituída por “pulha”.
Não me parecendo que a questão seja um saralho do carilho, também será com certeza possível começar a usar termos um pouco, mas não totalmente, mais vernáculos. Em vez de (se me permitem e com as minhas desculpas) "filho da puta" seria bom dizer-se "filho de uma alternadeira".
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