sexta-feira, abril 17, 2009

Dizer a verdade pode doer... mas cura (*)

A entrevista do empresário Henrique Barreira ao Notícias Valença mostra como dizer o que se pensa ser a verdade, e no caso é mesmo a verdade, é o melhor predicado das pessoas de bem. É claro que afirmar que se o poder relativo corrompe, o poder absoluto corrompe totalmente, tem altos custos. Tão altos quanto o país está longe de ser um verdadeiro Estado de Direito.

O que diz Henrique Barreira a propósito de Valença (“...Daqui resulta que os que detêm o poder acham que aquilo que pensam é o que está certo”) é, apesar dessa dura realidade, algo tão antigo quanto a humanidade. Parece que as pessoas têm atávicas dificuldade em aprender e em ver a realidade.

Já Platão, que viveu antes de Cristo, afirmava que “o castigo por não participarmos na política é acabarmos por ser governados por quem nos é inferior.”

É, portanto, um problema que, apesar de velho, não morre com a idade. Pelo contrário. Parece ser sempre novo e pujante, apenas se adaptando a novas realidades.

Henrique Barreira, mais do que pôr um dedo na ferida, põe todos os dedos. “A questão é que a que gestão autárquica de Valença está nas mãos de algumas pessoas que entraram por uma porta e saíram por outra porta, já políticos”, diz o empresário numa radiografia precisa mas que, infelizmente, se aplica a todo o país.

Porque é que isso acontece? Há mil e uma explicações, mais ou menos eruditas, mais ou menos pragmáticas. A tese de Henrique Barreira não fica a dever nada às melhores que já li. Diz ele que “são pessoas desprovidas da humildade própria de quem tem por missão gerir os destinos duma comunidade” mas que, se calhar, “antes de tudo gerem os seus próprios interesses”.

E é curioso, para além de didáctico, tentar ver a questão pelos olhos deste empresário que, a partir de um exemplo local, a gestão autárquica de Valença, nos indica caminhos de reflexão e de acção que devem ser assumidos no todo nacional.

“A questão fulcral que baliza todo o tipo de acontecimentos é que temos as pessoas com responsabilidade de governação desatentas ao tempo e às mudanças, que se deixaram ultrapassar por visões obtusas da realidade”, afirma Henrique Barreira que, a propósito do que se (não) tem feito por Valença, é peremptório: “Penso que esta terra só é relembrada por quem vem de Espanha pela ponte velha e bate de frente nas muralhas”.

Sem medo das palavras, o que é cada vez mais raro, Henrique Barreira defende que os valencianos devem procurar alternativas, mas no actual quadro político-partidário (que muitas vezes não é solução para o problema mas, isso sim, um problema para a solução) entende que “o PSD nacional e o local estão a sair do estado de coma”.

Mas para tal será necessário limpar situações como a do vereador, filiado no PSD mas eleito pelo PS (?!!!) que acumula pelouros - ele é a Cultura, ele é o Desporto, ele é a Juventude, ele é o Turismo, ele é o Património, ele é o Trânsito... - e que acaba, com as suas relações, por minar a Câmara, a União Empresarial e o próprio PSD numa promiscuidade digna dos melhores seguidores de Maquiavel, sem que o PSD faça o que quer que seja. Um problema que até hoje não foi resolvido. Será José Temporão Monte capaz de o fazer?

E na tal perspectiva de dizer a verdade, Henrique Barreira entende (e o melhor é mesmo ler toda a entrevista) que o actual presidente da Câmara, José Luís Serra, é um bom economista e um mau político, rodeado por incompetentes que acima de tudo zelam interesses pessoais em detrimentos dos da comunidade.

Este é, como certamente estarão nesta altura a pensar os leitores do Notícias Valença, um problema nacional. E é mesmo.

Por alguma razão o primado da competência foi substituído pelo da subserviência.

Cabe, no entanto, dar a partir do poder local um exemplo a todo o país. E para isso, como defende Henrique Barreira, não se pode passar a vida a abanar a cabeça como os cãezinhos, metendo o rabinho entre as pernas.


(*) Artigo de opinião publicado no Notícias Valença (Portugal)
http://www.noticiasvalenca.com/ficheiros/jornais/edicao7.pdf

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