terça-feira, abril 28, 2009

Kumba Ialá diz verdades incómodas

A promessa do ex-Presidente da Guiné-Bissau, Kumba Ialá, de acabar com o narcotráfico se for eleito nas presidenciais de 28 de Junho é tão válida quanto a de José Sócrates criar 150 mil novos empregos em Portugal.

Em entrevista a partir de Dakar, Senegal, para a rádio Sol Mansi (da Igreja Católica), Kumba Ialá afirmou que ficou surpreendido quando ouviu que estava a ser discutida a hipótese de a comunidade internacional mandar uma força militar para estabilização da Guiné-Bissau.


"Quando ouvi isso pensei logo que era uma vergonha para o país. Quer dizer que querem alienar a soberania do Estado. Se for isso então podemos pensar que lutámos pela nossa independência para nada", disse Ialá.

E talvez tenha razão, embora me pareça que neste caso se deve aplicar a frase “olhai para o que eu digo e não para o que eu fiz”. Mas se, de facto, o país está nas mãos, ou nos bolsos, dos que pedem aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres, se calhar é melhor pensar em acabar com a Guiné-Bissau enquanto Estado independente.

Francisco Fadul defende a tese do protectorado, havendo se calhar alguns que apostam na neo-colonização ou, talvez, até num estatuto de província ou região autónoma de uma qualquer potência regional, caso de Angola.

Para Kumba Ialá, admitir a vinda da tropa estrangeira para a Guiné-Bissau significaria que os guineenses não são capazes de pensar pela própria cabeça, por isso "vão pedir que alguém venha pensar em seu lugar".

Não sendo a lucidez e o pragmatismo uma característica coerente da Kumba Ialá, devo reconhecer que nesta matéria está a pensar bem.

É claro que pensar bem não chega. Seria, mais ou menos, como para acabar com o perigo da gripe suína em Portugal o Governo mandar matar todos os porcos. Os porcos morriam, mas os suínos por lá continuariam...

"Alguém tem o seu interesse escondido nisso, quer que a Guiné-Bissau volte a ser uma colónia", defendeu Kumba Ialá, pedindo que "deixem a Guiné-Bissau em paz".

"Ou será que alguém quer, antecipadamente, vender a Guiné-Bissau, por causa de interesses mesquinhos. Que deixem o povo em paz", reiterou Kumba Ialá.

Sobre o narcotráfico na Guiné-Bissau, o líder e candidato às presidenciais pelo Partido da Renovação Social (PRS), afirmou que se for eleito convocará uma "grande reunião no país", com os partidos políticos, governo, Parlamento, militares e a sociedade civil, para em conjunto analisarem a questão.

E se concretizasse essa ideia de uma grande reunião, Kumba Ialá não precisaria de convocar os narcotraficantes... já lá os teria.

"Quando o PRS estava no poder não havia a droga no país. Ninguém ouvia falar disso. Nem havia crime organizado. Não havia insegurança. Os estrangeiros viviam tranquilamente no país. Mas hoje não é assim", sublinhou Ialá.

"A droga coloca a imagem e o respeito da Guiné-Bissau em maus lençóis a nível internacional", acrescentou Kumba Ialá, que conta estar no país brevemente para a campanha eleitoral que promete "transparente e movimentada".

Questionado sobre se aceita assinar um Código de Conduta para a moderação de linguagem durante a campanha eleitoral, Kumba Ialá disse que não recebe lições de civismo de ninguém na Guiné-Bissau.

"Já ultrapassei a fase de receber qualquer lição de civismo ou de ética por parte de qualquer cidadão da Guiné-Bissau. Seria um ultraje de compreensão por parte da pessoa que possa ter essa pretensão", afirmou.

Com ou sem Kumba Ialá, a Guiné-Bissau continua a luta. Creio, no entanto, que os guineenses têm nas afirmações do candidato do PRS boas razões para pensar.

De facto, creio que há muita gente interessada em que os guineenses aprendam a viver sem comer. É claro que acabarão por reconhecer que quando estavam mesmo, mesmo quase, a saber viver sem comer... morreram.

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