Amanhã, perto das 23,30 horas, a RTP2 (Portugal) apresenta o Clube dos Jornalistas onde será analisado o tema: “Estarão os jornalistas a cobrir a crise ou a encobrí-la?”.
Em estúdio estarão Miguel Carvalho, jornalista da “Visão”, Pedro Guerreiro, director do “Jornal de Negócios” e Camilo Lourenço, analista económico. Os provedores dos leitores do “Público” e do “Diário de Notícias”, respectivamente, Joaquim Vieira e Mário Bettencourt Resendes, prestaram depoimentos sobre o assunto. Dina Soares é a moderadora.
No texto em que o Clube dos Jornalistas anuncia o programa pode ler-se: “Nos últimos meses, a palavra crise domina os noticiários. Ouvimos falar de crise, mas até que ponto chega a informação que é servida pelos media? Estarão os jornalistas a cumprir o seu papel de recolher todos os dados disponíveis, analisá-los e fornecer ao público os dados essenciais para a compreensão das mudanças sociais, políticas e económicas inerentes a esta crise? Houve ou não conivência ou instrumentalização dos media nas políticas e actividades que precederam a falência do sistema financeiro mundial?”
Mesmo quando (não) existem, as crises têm sempre duas faces. Também nestes casos, o pão dos portugueses quando cai ao chão tem sempre a manteiga virada para baixo. Se sempre assim foi, porque razão agora seria diferente?
Deixe-me recordar um telefonema (que recebi no dia 31 de Dezmbro do ano passado) de um amigo, empresário no norte de Portugal, cuja empresa estava – diz ele na altura – em crise e que poderia ser obrigado a despedir umas dezenas de empregados já no iníco do ano.
“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”, contou-me ele.
“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas e – é claro – de crises.
“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse-se o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.
Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.
Na altura, antes de, apesar de tudo, lhe desejar um bom 2009, perguntei-lhe a medo onde iria passar o fim do ano. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.
“Já estou em Cuba onde vou passar o fim do ano”, respondeu-me.
“Como? Em Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.
“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem vai gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.
1 comentário:
Crise é um vocábulo que só está nos dicionários de uns quantos. daqueles que realment a sentem no dia-a-dia e no mês cada vez mais curto que todos os meses vão mostrando ser.
É que os meses "economicistas" não tem os mesmos dias que os do calendário. Sobram sempre dias sem kumbu!
Kandandu
EA
Enviar um comentário