sábado, abril 18, 2009

Todos à volta de uma recheada mesa
vão discutir a crise da Guiné-Bissau

A “Reunião Técnica” sobre a Reforma do Sector da Defesa e Segurança da Guiné-Bissau juntará segunda-feira, na Cidade da Praia, 51 delegações, entre países e organizações, na presença do primeiro-ministro guineense.

Cabo Verde está assim na rota da (tentativa) de resolução da grave crise guineense. E para as delegações internacionais, habituadas a discutir os problemas da fome durante faustosas refeições, nada melhor do que estar em bons hotéis e longe dos focos de incêndio.

Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano, José Brito, a presença de tal número de delegações demonstra o interesse “inequívoco” da comunidade internacional em ver ultrapassado um dos principais obstáculos à estabilização política, económica e sobretudo militar na Guiné-Bissau.

Na minha opinião não demonstra o que José Brito diz. Demonstra tão somente que a comunidade internacional quer apenas dormir de consciência aliviada, mascarando o problema.

Da Cidade da Praia sairão certamente resoluções no sentido de que a enfermidade guineense só se resolve com doses industriais de antibióticos. Poucos serão os que cuidarão de dizer que esses medicamentos só podem ser tomados depois de uma coisa que os guineenses não têm: refeições.

Na base desta reunião esteve o Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na sequência de uma proposta nesse sentido apresentada pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Entre doadores, parceiros e organizações internacionais, a reunião técnica, inicialmente prevista como “Mesa Redonda de Doadores”, não terá um carácter ministerial, “sendo mais um encontro entre especialistas” de vários sectores, desde o político, ao militar, passando pela segurança e serviços secretos, disse José Brito.

Ou seja, os especialistas (onde não faltam os serviços secretos, note-se) vão chegar à conclusão que todos já sabem qual é, que já sabem há muito tempo: a Guiné-Bissau está à deriva e corre o sério risco de se tornar um não-Estado, algo similar ao que se passa na Somália.

E medidas? Essas serão tomadas um dia qualquer pois, nesta como noutras reuniões, o importante não é curar o doente. É apenas concluir o que todos já sabem, que o doente... está doente.

A Guiné-Bissau estará presente com uma delegação de 18 pessoas, chefiada pelo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, que aproveita para iniciar uma visita oficial a Cabo Verde.

Segundo o ministro José Brito, quatro áreas essenciais vão estar no centro das atenções, com particular destaque para a desmobilização dos militares, com pensões “dignas”, ao mesmo tempo que se deverá definir os moldes de novos recrutamentos para evitar a “etnicização” das Forças Armadas que, segundo José Brito, contam com 95% dos seus efectivos da etnia Balanta.

E será preciso, para além do benefício lógico de lotar os hotéis da Cidade da Praia, reunir 51 delegações para concluir o óbvio, para concluir que a seguir ao sábado vem o domingo?

A criação de uma força de protecção das altas entidades civis e militares da Guiné-Bissau, actualmente asseguradas pela Forças Armadas, é outra questão premente do encontro, frisou José Brito, lembrando que, em qualquer país democrático, é a polícia que tem essa atribuição.

Por este andar e fazendo fé nos muitos exemplos conhecidos, creio que a solução final acabará por ser não a criação de uma força de protecção das altas entidades civis e militares mas, apenas, por acabar com essas entidades.

Entre os convidados estão representantes de Portugal, EUA, Rússia, China, CPLP, CEDEAO, ONU, União Africana, União Europeia, Colômbia e Venezuela, Interpol e Europol.

Como se vê estarão lá todos, só faltando o principal: o Povo guineense.

1 comentário:

Rui Martins disse...

Podem divulgar esta petição, de que Francisco Fadul é o primeiro subscritor?

PETIÇÃO EM PROL DA CONSTRUÇÃO DE UM ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO NA GUINÉ-BISSAU
http://www.gopetition.com/online/26953.html

Obrigado.
Rui Martins
MIL: Movimento Internacional Lusófono
http://www.movimentolusofono.org