O Conselho de Administração do Hospital de São João (Porto, Portugal) anunciou hoje o arquivamento do processo disciplinar contra um enfermeiro que escreveu ao Presidente da República queixando-se de que estava a ser injustiçado, perseguido e discriminado pelas chefias.
Foi, é claro, o fim esperado, calculando-se que a Administração daquele hospital espera que o assunto fique definitivamente encerrado. E é capaz de ser isso que vai acontecer, sobretudo quando a melhor solução lusa para tudo é não atribuir responsabilidades a ninguém.
Fica, contudo, a explicação dada que é, só por si, digna de registo em tudo quanto é sítio:
"Atendendo ao superior interesse público, e à consideração que nos merecem todas as instituições democráticas, o Conselho de Administração do Hospital de São João decide arquivar o processo, na certeza de melhor servir os interesses do país".
Há umas décadas, bastava pôr que era a bem da Nação. Hoje é a bem de uma série de coisas e que, por serem tantas, vai permitir mais uma vez que a culpa morra (bem) solteira.
No texto, a Administração do Hospital de São João justifica o processo iniciado, e agora arquivado, porque a carta do enfermeiro ao Chefe de Estado continha afirmações "falsas, ofensivas e difamatórias para a instituição e para os profissionais que nela exercem funções, nomeadamente, para os profissionais do Serviço de Otorrinolaringologia".
Então se a carta tinha tudo isso não há, dir-se-ia em qualquer Estado de Direito, razões nem superiores interesses de qualquer espécie para encerrar o assunto.
Assim sendo, das duas uma: ou Portugal não é um Estado de Direito ou... não é um Estado de Direito.
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