quarta-feira, abril 01, 2009

Alkatiri desaconselha eleições precipitadas
como solução para a crise na Guiné-Bissau

A realização de eleições na Guiné-Bissau nos próximos meses "é uma precipitação", afirmou o ex-primeiro-ministro e líder da oposição de Timor-Leste, Mari Alkatiri, em entrevista à Agência Lusa em Díli.

Pelos vistos há mais alguém a pensar que a democracia não se esgora em eleições e que as eleições não são só por si remédio para um país onde a fome comanda a morte.

"O mais importante é não nos precipitarmos com eleições", afirmou Mari Alkatiri sobre a forma como a Guiné poderá ultrapassar a actual "instabilidade".

Mari Alkatiri chefia uma delegação oficial do Estado timorense que estará cerca de um mês em Bissau, na sequência dos atentados que vitimaram, na mesma madrugada, o chefe das Forças Armadas guineenses e o Presidente da República.

"Eu sei que é uma imposição constitucional mas como evitar haver precipitação?", questiona o actual líder da oposição sobre a transição guineense, ressalvando que não vai a Bissau "para dar lições a ninguém mas apenas partilhar a experiência timorense".

A realização de eleições "dois meses depois do assassinato do chefe de Estado e do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas é, em qualquer parte do mundo, uma precipitação", explicou Mari Alkatiri.

"Tem que se deixar funcionar as instituições para que retomem o seu funcionamento normal: o Governo, a Presidência da República, as Forças Armadas, o Parlamento. É nisso que a comunidade internacional deve concentrar-se" na Guiné-Bissau, sublinhou o ex-primeiro-ministro de Timor-Leste.

Mari Alkatiri salientou que os atentados contra o general Tagme Na Waié e o Presidente João Bernardo "Nino" Vieira foram "o ponto culminante" de uma longa crise.

"Esses acontecimentos marcaram o ponto culminante da crise, porque agora Bissau está sem violência nenhuma e a vida corre normalmente e não foi necessário a intervenção internacional", declarou Mari Alkatiri.

"Isso significa que os guineenses reagiram de uma forma positiva. E isso (é algo que) devemos saudar em vez de continuar a criticar" a situação, acrescentou o ex-primeiro-ministro e secretário-geral da Fretilin.

"Até vou comparar com a crise de 2006 (em Timor-Leste), (em) que tivemos que pedir a intervenção de forças internacionais e mesmo assim levou meses, se não anos, para parar a violência", frisou Mari Alkatiri.

"A crise de 2006 obrigou-me a demitir-me, para travar 20 mil pessoas que vinham a caminho de Dili para arrasar a cidade", referiu Mari Alkatiri.

Nesse aspecto, "é bom pensarmos as coisas de forma mais positiva e reconhecer que os guineenses reagiram de forma positiva" aos acontecimentos de 02 de Março.

Sobre a mensagem timorense para a Guiné-Bissau, Mari Alkatiri afirmou que pretende falar da necessidade de "tolerância mútua" que possibilite a "formação de consensos" na liderança e na sociedade.

1 comentário:

ELCAlmeida disse...

Um voz que sabe do qu diz e que deveria ser ponderada.
Mas como a democracia é eleições à pressa mesmo que quem mande continue a serem outros que não os eleitos com o voto...
kandandu
EA