Quem reler a entrevista que o Jornalista Paulo F. Silva concedeu ao Notícias Lusófonas em 27 de Fevereiro de 2006 perceberá como é perigoso ter razão antes do tempo. Perceberá também a diferença abismal entre os que se dizem jornalistas e os que o são, 24 horas por dia... mesmo estando (des)empregados.
«É evidente que o poder profissional dos jornalistas está em queda, basta pensar no prestígio humano que ainda agora associamos aos jornalistas das décadas de 50 e 60, por exemplo, só para falar em muitos que, felizmente, ainda estão vivos, e na falta de dignidade que atinge hoje quase toda a classe.»
«(...) Tenho uma enorme dificuldade em separar o que é genuinamente informação, notícia, investigação, e o espectáculo malabarista em prol de mais um ponto no “share” ou de uns jornais vendidos a mais. Há uma crescente falta de pudor que é assustadora.»
«A concentração dos meios é assunto muito mais sério do que se julga e mereceria um cuidado especial que, infelizmente, não lhe tem sido dispensado, pela sociedade civil, os jornalistas, os políticos e os partidos, por todos nós.»
«A concentração traduziu-se na perda da memória nas redacções, a falta de gente mais velha e experimentada, que viveu coisas que eu não e a quem eu possa fazer uma simples pergunta, e na falta de algo que identifique o todo de cada Redacção, uma identidade específica para cada título.»
«E uma Redacção sem memória nem identidade só pode caminhar para um jornalismo domesticado, cinzento, que se reproduz a si próprio, onde há espaço para tudo à excepção da criatividade, da rebeldia e da capacidade de re-invenção diária. O embrulho, o produto que chega ao público, como agora se diz, pode ser muito bonitinho, mas não é mais do que isso mesmo.»
«Quanto aos jornalistas, deixemo-nos de tretas: eles têm de pagar as contas do final do mês como toda a gente, muitos comem e calam literalmente. A realidade empresarial de hoje é impiedosa e as redacções não são hoje os espaços de liberdade de que ouvi falar e com que sonhei.»
O Paulo F. Silva, que entrou para o Jornal de Notícias em Abril de 1994 e integra agora a lista dos 119 despedidos pela empresa proprietária do JN, fez para este jornal importantes reportagens.
Em Timor-Leste (em Outubro de 1999, quando os militares da Interfet assumiram o território, após a debandada indonésia); no Paquistão e no Afeganistão (de resto, integrou o primeiro grupo de jornalistas portugueses a chegarem a Cabul, em 2001, dois dias após a coligação anglo-americana ter assumido o controlo político-militar da situação); e na Palestina (em 2004, onde acompanhou as exéquias fúnebres de Yasser Arafat).
Leia toda a entrevista em:
http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21992&catogory=Manchete
http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21992&catogory=Manchete
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