A revelação, baseada apenas em testemunhos portugueses, de que a UNITA tinha um acordo de tréguas com o exército colonial de Portugal, antes da independência do país, em 1975, está a provocar orgasmos múltiplos em diversos sectores luso-angolanos.
É verdade que o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) sempre disse o que mais lhe interessava, e enquanto atirava, e atira, o odioso da questão para a UNITA evita que se analisem factos similares que também o envolvem.
Talvez um dia destes alguém, até talvez o próprio Joaquim Furtado, possa analisar a documentação histórica que revela acordos similares que a PIDE/DGS fez com alguns dos dirigentes da organização liderada por Agostinho Neto.
O general Bettencourt Rodrigues, comandante da Zona Leste de Angola entre 1970 a 1973, confirmou à Rádiotelevisão Portuguesa (RTP) que ele próprio assinou um acordo de tréguas entre a UNITA e o exército colonial português, em 1972.
É verdade. Jonas Savimbi, no âmbito da sua estratégia política e militar, foi fazendo ao longos de décadas acordos com diferentes parceiros, seja no âmbito da sobrevivência da UNITA, seja a nível da melhor forma de derrotar os diferentes inimigos. Primeiro o colonialismo português e depois a sovietização (via MPLA) de Angola.
E se, em 1975, a UNITA contou com o apoio dos sul-africanos, importa igualmente não esquecer as alianças do MPLA com cubanos, russos, portugueses, brasileiros etc.
As declarações do general português fizeram parte 17º episódio da excelente série televisiva Guerra Colonial, da RTP, produzida e realizada pelo Jornalista Joaquim Furtado.
Embora o acordo tenha sido assinado, tanto Sabino Sandale (um dos subscritores) como o ex-chefe do Estado-Maior das FALA (Forças Armadas de Libertaço de Angola, exército da UNITA), Samuel Chiwale, negam a sua existência.
Não vejo muito bem a razoabilidade desta negação, até porque o próprio Jonas Savimbi sempre admitiu que até com o Diabo se pode fazer alianças, se delas depender a sobrevivência.
O episódio da RTP incluiu o depoimento do general Costa Gomes, então chefe militar de Portugal em Angola, que afirmou que no âmbito desse acordo Jonas Savimbi poderia ter sido nomeado governador da província do Bié.
Trata-se do mesmo Costa Gomes que incentivava sempre os “bravos soldados portugueses” a lutar contra o inimigo que queria destruir o nobre ideal de uma Pátria do Minho a Timor.
Trata-se do mesmo Costa Gomes que, em Janeiro de 1971, discursando em Cabinda realçou a bravura do Exército português no “combate ao terrorismo, em defesa de uma causa justa”, e que, pouco mais de três anos depois, transformava os terroristas em heróis e passava uma causa justa para o rol das maiores infâmias do Mundo.
Trata-se do mesmo Costa Gomes que, quando se deu o 25 de Abril, abandonou os seus soldados. Muitos deles, tal como muitos civis, nem direito a uma campa tiveram.
Foto: Janeiro de 1971. Cabinda. Costa Gomes enaltece o esforço dos militares portugueses no combate ao terrorismo.
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