Os responsáveis dos principais órgãos de comunicação social portugueses consideram que os processos judiciais que o primeiro-ministro, José Sócrates, interpôs contra os media não vão condicionar a forma como os jornalistas abordam o caso Freeport, revela um inquérito hoje divulgado.
A "Sonda Central de Informação/Meios & Publicidade" procurou (?) saber o que pensam estes profissionais sobre os vários processos judiciais instaurados nas últimas semanas pelo primeiro-ministro contra vários jornalistas.
Mais de dois em cada três (69 por cento) defendeu tratar-se de "um direito normal de quem é visado num artigo jornalístico", ao passo que 26 por cento consideraram esses processos "uma forma de pressão contra os media".
Misturar o que é, de facto e de jure, um direito com formas de pressão é, desde logo, uma forma de mascarar a questão, embora deixando-a com o rabo de fora. É que o ser um direito não significa que não seja uma forma de pressão.
Fossem esses profissionais Jornalistas e todos (100 por cento) teriam dito que embora sendo um direito é igualmente uma forma de pressão. Mas não. Há razões que a razão finge desconhecer.
Dos 103 jornalistas inquiridos, apenas cinco por cento classifica o comportamento de José Sócrates como "um acto de desespero".
Relativamente ao futuro da cobertura mediática do caso Freeport, 71 por cento defende que os processos não vão condicionar a forma como os media abordarão o caso, sendo que 16 por cento destes consideram mesmo que "terão um efeito contrário nos jornalistas".
Por aqui se pode concluir que apenas 16 por cento são verdadeiros jornalistas, estando os outros 71 por cento na transição para produtores de conteúdos, pagos ou não.
Apenas 29 por cento dos inquiridos acreditam que a atitude do primeiro-ministro poderá ter impacto nos meios de comunicação social, mas com oito por cento a ressalvarem que só será visível nos meios menos influentes.
Neste aspecto, José Sócrates deve estar a rir às gargalhadas. É que ele e toda a sua máquina sabem que são muitos mais (e de que maneira) do que 29 por cento os que sabem que a atitude do primeiro-ministro teve, tem e terá impacto nos meios de comunicação social.
No que respeita à decisão de Manuela Moura Guedes processar José Sócrates pelas suas declarações numa entrevista à RTP, 87 por cento dos inquiridos consideram que esse não deve ser um caminho a seguir pelos restantes órgãos visados pelas críticas.
É claro que não, embora também seja um direito dos ofendidos. O problema está em que uma importante parte dos jornalistas teme o poder deste governo. E, das duas uma, ou os jornalistas se calam ou vão para uma prateleira ou até mesmo para a rua.
Até a metodologia seguida por este inquérito revela a palhaçada existente. Diz-se que foram inquiridos 103 jornalistas, entre editores, coordenadores, chefes de redacção e directores de órgãos de comunicação social, entre os dias 22 e 27 de Abril.
É que comparar jornalistas a responsáveis pelas hierarquias não é exactamente a mesma coisa. Além disso, todos sabem como na maioria dos casos se chega a esses cargos que, na escala descendente, são quase sempre uma prova de fidelidade canina a entidades, órgãos, estruturas que estão a anos-luz do Jornalismo.
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