Os angolanos já assimilaram que só um povo informado consegue ser livre. Deve ser por isso que, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Angola passou, em matéria de liberdade de imprensa, da posição 116º em 2008 para a 119º em 2009.
No âmbito da Lusofonia, Cabo Verde caiu, no mesmo período, de 36º para 44º lugar, Timor-Leste de 65º para 72º, Guiné-Bissau de 81º para 92º. Mas algun subiram. O Brasil passou do 82º lugar para o 71º e Moçambique do 90º para o 82º.
E deve ser por tudo isto (provável excesso de liberdade de imprensa) que nos areópagos da política dos reinos lusitano e angolano se volta a reanimar a tese evidenciada, em 2001, pelo então secretário para as relações exteriores do MPLA, Paulo Teixeira Jorge.
Tese essa que sustentava que o Governo português não deveria permitir que "portugueses de ocasião" interferissem nos assuntos internos de Angola, tal como os “angolanos de ocasião” deveriam também ser impedidos de falar sobre Angola.
Na altura, e um pouco à semelhança do que ainda hoje se passa, Paulo Teixeira Jorge não teria ouvido falar de democracia. Não sabia o que era e, por isso, julgava-se no direito de dar palpites sobre um Estado de Direito que Portugal quase chegou a ser e que Angola, até agora, nunca foi.
"Existe o princípio universal da não ingerência nos assuntos internos (de outro Estado) e eu creio que Portugal, através dos órgãos competentes, poderia recomendar a esses ditos portugueses (elementos afectos à UNITA que vivem em Portugal) para não se meterem nos assuntos internos (de Angola)", afirmou na altura Paulo Teixeira Jorge, referindo-se ao facto do relatório do então mecanismo de fiscalização das sanções contra a UNITA apresentar Portugal como a principal base de apoio do movimento de Jonas Savimbi na Europa.
Hoje, com pressupostos legais diferentes, o MPLA continua a insistir no sentido de Portugal calar todos aqueles que pensam com a sua própria cabeça, que têm coluna vertebral e que (ainda) não foram cmmprados pelo regime angolano.
O “crime” já não é tanto o de os “portugueses ou angolanos de ocasião” apoiarem a UNITA, mas sobretudo o de criticarem o regime, nomeadamente em relação a Cabinda.
E, a fazer fé no muito que se vai lendo, as teses de Paulo Teixeira Jorge fizeram escola. Portugal hoje, muito mais do que 2001, convirá que todos o entendam de uma vez por todas, é um país rendido ao petróleo (e não só) da família Eduardo dos Santos.
E é por issso que, mais ou menos de forma velada, as autoridades de Lisboa vão aconselhando a que se moderem as críticas ao regime angolano. Acrescentam, aliás, que se não houver moderação... outras medidas terão de ser tomadas.
Seja como for, todos aqueles que catalogam os angolanos e os portugueses em duas classes, os de primeira (afectos ao MPLA ou ao PS, ou a ambos) e os de segunda (afectos aos outros partidos ou simplesmente apartidários), devem perceber que nem mesmo pela barriga conseguirão calar os que são livres.
"... Eles são portugueses de ocasião, fundamentalmente são angolanos que se tornaram portugueses depois da evolução da situação em Angola", afirmou na altura Paulo Teixeira Jorge, para quem o Governo português também deveria "chamar a atenção" dos elementos da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) que se encontravam em Portugal.
De ocasião ou não, angolano ou português, recuso-me a deixar de dizer o que penso ser a verdade. Ainda mais agora que, por acção directa do PS e indirecta do MPLA, estou quase a saber viver sem comer...
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