O representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba, apesar de dar uma no cravo e outra na ferradura, sempre vai dizendo uma verdade que, contudo, peca por tardia. Diz ele que "a paciência tem limites".
E, para bem dos guineenses – sendo que dois em cada três vivem na pobreza absoluta - , é mesmo necessário, diria mais do que urgente, que alguém dê um murro na mesa e obrigue os poucos que têm cada vez mais milhões a trabalhar para os “milhões” que têm cada vez menos.
A ONU diz, aliás, as verdade que deveriam ser ditas sobretudo pelo CPLP em geral e por Portugal em particular. Quando se sabe que a Guiné-Bissau regista a terceira taxa mais elevada de mortalidade infantil no mundo, fica a ideia de que afinal todos se estão nas tintas para os guineenses.
Pena é que o representante especial do secretário-geral da ONU para a Guiné-Bissau, Joseph Mutaboba, não diga uma outra verdade. Ou seja que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com Portugal à cabeça, tarda em perceber a porcaria que anda a fazer em muitos países lusófonos.
De facto, sempre que alguém tem coragem de falar verdade (nunca é o caso de Portugal ou da CPLP), fica a saber-se que para além de envergonharem as autoridades guineenses – mostram a hipocrisia que reina nos areópagos das principais capitais da CPLP, a começar por Lisboa.
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que a esperança de vida à nascença para um guineense é de "apenas" de 45 anos, atendendo à fragilidade humana, sobretudo por causa da fraca cobertura dos serviços sociais?
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que apesar da miséria os líderes guineenses continuem a saborear várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente que foi gerada com fome, nasceu com fome e morre com fome?
Será que a CPLP aceita calma e serenamente, como até agora, que é possível enganar toda a gente durante todo o tempo?
Sei que Portugal, tal como outros, continua a mandar toneladas de peixe para a Guiné-Bisau. No entanto, o que os guineenses precisam é tão só de quem os ensine a pescar.
Sei que Portugal continua, tal como outros, a mandar montes de antibióticos para a Guiné-Bissau. Esquece-se, sobretudo porque tem a barriga cheia, que esses medicamentos só devem ser tomados depois de uma coisa essencial que os guineenses não têm: refeições.
Os deputados portugueses bem podem exigir, como fez Ribeiro e Castro do CDS/PP, a "reposição completa da normalidade constitucional", porque "nenhum povo escolhe ser um Estado falhado”.
Pena é que não estejam interessados, nem os deputados nem o governo, em acabar com a tentativa também praticada em Portugal de ensinar os guineenses a viver sem comer. É que um dias destes vão constatar que quando eles estavam quase, quase mesmo, a saber viver sem comer... morreram.
Portugal, já que a CPLP é uma miragem flutuante nos luxuosos areópagos da política de língua portuguesa, deveria dar força à única tese viável e que há muito foi defendida por Francisco Fadul e que aponta, enquanto é tempo, para “o envio de uma força multinacional, de intervenção que garantisse aquilo que é protegido pela Carta da ONU, que é a democracia e os Direitos Humanos".
Ao que parece, tanto os políticos guineenses como os donos do poder na comunidade internacional (CPLP, Portugal e similares) continuam pouco ou nada preocupados com o facto de os pobres guineenses (a esmagadora maioria) só conhecerem uma forma de deixarem de o ser.
E essa forma é usar, não um enxada, uma colher de pedreiro ou um computador, mas antes uma AK-47. E enquanto assim for...
Mas o que é que isso importa? Nada, como é óbvio. Aliás, depois da aprovação por unanimidade dos dois votos de condenação do atentado à ordem constitucional na Guiné-Bissau em 1 de Abril, os deputados portugueses devem ter ido para um fausto repasto num qualquer bom restaurante de Lisboa. A bem da Nação, é claro!
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