Quando em Portugal a televisão transmite jogos de futebol, o que mais gosto de ver é as imagens dos ilustres protagonistas que, nos camorotes só reservados a gente importante, mostram como é que se agrada aos donos.
Quando no dia 4 de Outubro do ano passado, o presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, disse em Olhão, Algarve, que “só os espíritos cretinos e obtusos pensam que receber um clube numa câmara é sinal de promiscuidade”, referia-se a um dos raros políticos lusos que nunca estiveram ao seu lado nesses camarotes: Rui Rio.
Pinto da Costa não perdeu nada com isso e Rui Rio também não. Aliás, os camarotes do Estádio do Dragão devem ser dos lugares onde se vêem mais socialistas por metro quadrado.
Tenho dúvidas que todos sejam adeptos portistas, mas o que importa é estar ao lado de um campeão. Este ano o Futebol Clube do Porto deixou de o ser e, se calhar, vai diminuir a afluência dos políticos que, por norma, só estão onde está o poder.
Voltemos, entretanto à cidade do Porto. O presidente da Câmara Municipal está, de há muito, ou seja desde a sua primeira campanha eleitoral para a autarquia, em rota de colisão com todos os interesses instalados.
É claro que, para além da simpatia maioritária dos cidadãos, conseguiu arranjar sarna para se coçar. Não há socialista que se preze que não esteja solidário com Pinto da Costa sempre que este ataca Rui Rio.
Rui Rio não ganhou a guerra da moralização da vida pública. Sempre que olho (pela televisão) para os camarotes do Estádio do Dragão reforço a certeza de que Portugal é um país de aparências, de faz de conta.
Rui Rio quer (e bem, na minha opinião) que cada macaco esteja no seu galho. Futebol é futebol, política é política. Prioridades são prioridades. Cultura é cultura. Se assim não for, e há muito que não é assim, continuaremos a ter uma perigosa promiscuidade onde não se sabe quem é quem, quem representa o quê.
Aliás, como nos recorda a história, foi essa promiscuidade que fez com que o macaco acabasse por «comer» a mãe. Mas hoje nem isso é problema... desde que não se saiba.
De há muito que os portugueses se habituaram a ver os agentes da vida pública todos misturados numa orgia colectiva que, cada vez mais, mostra que a moralidade e a equidistância são valores pouco relevantes para um país que está acostumado a jogar no sistema de todos a monte e fé em Deus.
Para comprovar tudo isso nem é preciso apelar à memória (também ela um valor irrelevante na nossa sociedade), basta de facto – sobretudo em Lisboa e no Porto - olhar todas as semanas para as bancadas VIP dos estádios de futebol.
Políticos pigmeus e pigmeus políticos (entre outros) lá estão, a propósito de tudo e de nada, em bicos de pés para que todos os vejam.
Num país de aparências, que melhor montra poderá querer um qualquer político pigmeu ou um pigmeu político?
Dir-se-ia que, mais uma vez, não basta ser sério. Também é preciso parecê-lo. Mas, infelizmente, algumas das nossas figuras públicas nem são sérias nem parecem sê-lo. Nem estão, acrescente-se, preocupadas com isso.
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