O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de reino lusitano, João Gomes Cravinho, comentou hoje que “não é mais um helicóptero que vai resolver os problemas” de narcotráfico na Guiné-Bissau.
Tem toda a razão. Desde logo porque veio chamar burro ao vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau que, recentemente, pediu ajuda à comuniade internacional para combater o narcotráfico, dizendo que a ajuda até poderia ser “um helicóptero em segunda mão”.
Falando em Bruxelas, João Gomes Cravinho disse que “o problema é mais profundo do que isso”, acrescentando que “se fosse esse seria mais fácil de resolver”.
A afirmação de Gomes Cravinho, que não percebeu o exemplo em sentido figurado do militar guineense, mostra que o rapaz que comanda a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal não só não sabe o que diz como é especialista em dizer o que não sabe.
Para o secretário de Estado do reino lusitano, a questão “depende da reforma do sector da segurança”, já que, neste momento, as Forças Armadas guineenses "não têm exercido o seu poder da forma mais apropriada”.
Neste momento, entenda-se. Tal como foi noutro momento com outros protagonistas: Bubo Na Tchuto, Hélder Proença, Baciro Dabó, Tagmé Na Waié, João Bernardo Nino Vieira etc. etc.
João Gomes Cravinho insiste na ideia de que o problema de fundo reside na fragilidade das instituições, mais do que propriamente na falta de meios, razão pela qual defende a permanência da missão da União Europeia para a reforma do sector da segurança na Guiné-Bissau.
Em Janeiro, quando oficialmente Bubo Na Tchuto era procurado pela justiça e se tinha refugiado na sede da ONU em Bissau, João Gomes Cravinho disse que o caso veio "expor completamente a fragilidade das instituições" guineenses.
Basta ler (se alguém tiver paciência para isso) o que Gomes Cravinho disse uma vez, nem que seja há um par de anos, para se saber que sempre que fala da Guiné-Bissau usa as mesmas ideias, os mesmos argumentos, a mesma teoria e, é claro, a mesma passividade.
E por falar em Gomes Cravinho, recordam-se que ele afirmou no dia 4 de Dezembro de 2007 que a União Europeia devia libertar-se da "bagagem colonial" na relação com África, reconhecendo que o continente “é hoje um igual" com "progressos notáveis" nos últimos anos?
No dia 25 de Junho do ano passado, João Gomes Cravinho falou pela enésima vez sobre a situação na Guiné-Bissau, apelando para uma resolução rápida da situação dos detidos por militares a 5 de Junho.
João Gomes Cravinho disse então à Lusa que "há um bom consenso quanto à necessidade de melhorar a capacidade de coordenação das Nações Unidas", e ele próprio encorajou o director de Assuntos Políticos a trabalhar nesse sentido.
"Não houve ainda uma decisão do Conselho de Segurança mas as coisas estão muito bem encaminhadas para que haja um prolongamento por mais seis meses da actual missão, UNOGBIS, e, a partir de Janeiro, seja bastante reforçada, com capacidade para fazer a coordenação internacional que tem faltado", esclareceu Gomes Cravinho.
Pois é. Chegou Janeiro, Fevereiro e Março, mas no primeiro dia de Abril ficou a saber-se que, por muito que se diga o contrário, a Guiné-Bissau continua infelizmente a pôr, perante a passividade dessa coisa que dá pelo nome de CPLP, a razão da força acima da força da razão.
Mais do que tapar o sol com uma peneira, como faz por regra Portugal em relação à Guiné-Bissau, é preciso que se entenda que – por exemplo – realizar eleições não é só por si sinónimo de democracia. Mas isso nunca será dito por Lisboa.
Só a verdade, ou o que dela estiver mais próximo, pode ajudar a Guiné-Bissau a enfrentar os seus mais graves problemas, sejam eles relativos aos senhores (políticos e militares) do narcotráfico ou, ainda, aos que de fora e sob a capa de amigos equidistantes (caso de Angola) estão já a marcar território e a olhar não para as veias dos guineenses mas para os veios petrolíferos.
Será que, no caso da Guiné-Bissau, Portugal e a CPLP têm medo de alguma coisa? Será que acreditam que uma mentira viva é melhor do que uma verdade póstuma? Será que temem que a verdade faça implodir o país? Será que, por alguma razão, uma eventual implosão poderá atingir alguns políticos portugueses ou de outros países da CPLP?
Continuo a pensar que os guineenses preferem ser salvos pela verdade, por muito dura que ela seja, do que assassinados pela mentira, por muito adornada e celestial que ela seja.
Pena é que, num sistema lusófono em que a aparência vale muitos mais do que a realidade, se continue a instituir o primado da impunidade e da imunidade baseado na mentira oficilizada, no caso português, por João Gomes Cravinho.
1 comentário:
Esta tudo dito. Para um entendedor meia palavra basta.
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