sábado, maio 01, 2010

Parar para pensar ou pensar para parar?

O vice-presidente do PSD, Marco António Costa, defendeu hoje a suspensão temporária das grandes obras públicas, sublinhando que, na actual situação de crise, o país "precisa de parar para pensar".

Por outras palavras, precisa de fazer algo que lhe é estranho, cada vez mais estranho: pensar. E há muito que os portugueses se habituaram a que fossem os outros, sobretudo meia dúzia de supostos iluminados políticos, a pensar por eles.

Além disso, a sociedade portuguesa tem premiado ao longo os últimos anos todos aqueles que não pensam, bem como os que conseguem pensar com a cabeça do chefe.

Não creio, portanto, que seja realista exigir aos portugueses que pensem... com a cabeça. É que, desde há muito, que têm treinado a pensar com a... barriga. E mesmo assim pensam mal porque ela está cada vez mais vazia.

"O país precisa de parar para pensar e redefinir prioridades. Isto não significa imobilismo nem negativismo, mas sentido de responsabilidade. Não podemos gastar o que não temos", disse à Lusa Marco António Costa.


É verdade que em Portugal há cada vez mais milhões que têm pouco ou nada. Mas é igualmente verdade que há poucos (embora demasiados) que têm milhões e continuam, impávidos e “mexiânicos”, a gozar com os 20% de pobres, com os outros 20% que já têm a pobreza a bater à porta, bem como com os 700 mil desempregados.

Para o dirigente social-democrata, as grandes obras públicas, como o aeroporto de Lisboa, a terceira travessia do Tejo e a linha do TGV (comboio de alta velocidade) devem ser suspensas temporariamente.

Mas qual é a vantagem de suspendar o TGV? É que com ele os portugueses sempre podem dizer que são pobres... a alta velocidade.

"Essa decisão é crucial para garantir emprego no futuro", sublinhou Marco António Costa, lembrando que essas grandes obras públicas esgotariam as linhas de crédito nos mercados internacionais, criando uma "situação de dificuldade" para o sector produtivo de bens transacionáveis.

Treta. As obras públicas de envergadura são necessárias, entre outras razões, porque serão entregues aos políticos/gestores ou gestores/políticos paridos na sua grande maioria da união de facto entre o PS e o PSD desde há muitos, muitos anos.

Marco António Costa acusou ainda o primeiro-ministro, José Sócrates, de ter feito uma leitura "oportunista e selectiva" do livro "Mudar", do presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, no que se refere às grandes obras públicas, concretamente ao TGV e ao aeroporto.

"O Primeiro-Ministro disse sexta-feira, no debate quinzenal no Parlamento, que o presidente do PSD defende, no livro, que essas obras deveriam avançar, mas omitiu a parte em que Pedro Passos Coelho defende que elas deveriam ser suspensas pelo menos três anos", referiu Marco António Costa.

Não sei, sinceramente, onde está o espanto. Qualquer politico que se preze das tradições do reino lusitano a norte de Marrocos, seja de que partido for, omite o que lhe interessa. Sócrates é, aliás, um bom exemplo. Mas, à esquerda e à direita, está numericamente bem acompanhado.

O vice-presidente do PSD defendeu ainda uma "auditoria exigente" ao funcionamento das empresas públicas, no que diz respeito às despesas correntes e "ao desperdício que possa estar associado" à gestão.

É uma boa ideia, sobretudo quando se está na oposição. Quando se está no governo omite-se essa exigência a bem da nação dos amigos, dos afilhados, dos compadres e de toda uma cáfila de gentalha que anda sempre à babugem do poder.

Marco António frisou que o PSD, com a nova liderança, "não vê a política como uma disputa clubística, mas como um serviço a Portugal".

Isso é que era bom! Até agora, como contará pelos dedos das mãos qualquer pessoa a quem elas tenham sido amputadas, são uma espécie desconhecida nas ocientais praias lusitanas.

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