domingo, maio 23, 2010

Em memória de Sérgio Vieira de Mello(divagações sobre o tempo que passa)

Parece que foi ontem mas já lá vão quase sete anos. Foi a 19 de Agosto de 2003. Sérgio Vieira de Mello foi um dos poucos bons exemplos dos que trabalham para os milhões que têm pouco, ou nada.

Tanto trabalhou por eles, do Bangladesh ao Líbano, de Moçambique a Timor-Leste, que acabou assassinado em Bagdade.

Tivesse preferido trabalhar para os poucos que têm milhões e estaria, certamente, a apanhar banhos de sol num qualquer paraíso.

O que se passou, o que se passa e o que se passará nos nas terras que foram de Saddam Hussein é algo que, necessariamente, me faz pensar em duas frentes. Por um lado, creio que quem mexer no passado deve perder um olho. Mas, é claro, quem o esquecer deve perder os dois.

Seja como for, dou por certo que ao adoptar-se a política do olho por olho, dente por dente (tão do agrado dos senhores que põem a razão da força acima da força da razão, como os EUA), corremos todos (mesmo os que vão cantando e rindo nas ocidentais praias lusitanas) o risco de ficarmos cegos e desdentados.

É também claro que (pelo menos para mim) todos os Bin Laden, Robert Mugabe, Dmitri Medvedev, Mahmud Ahmadinejad ou José Eduardo dos Santos e companhia devem ser punidos, estejam eles onde estiverem, tenham passaporte afegão, americano, angolano ou de qualquer outra nacionalidade.

Milhares de pessoas, entre as quais gente lusófona, morreram no ataque terrorista a Nova Iorque e a Washington. Ainda se lembram? O Mundo parou para ver, lamentar e condenar. As televisões, sobretudo elas, mostraram até à exaustão imagens que revoltam todos aqueles que, por regra, têm sangue nas veias. Não era para menos.

Deixem-me, contudo, recordar que não é só nos EUA que os actos terroristas matam milhares de pessoas. A diferença está no facto de, em África por exemplo, não haver CNN a transmitir em directo (ou em diferido que fosse) os ataques que transformam em pó as populações.

E quando não são ataques com bombas, são ataques de fome, miséria, humilhação e doenças...

E, nestes casos, nem os EUA, nem a NATO, nem a Rússia ou Portugal se preocupam. Também são aos milhares. Mas como estão lá nas terras do fim do Mundo... pouco importa.

Aliás, como têm petróleo e diamantes, até é bom que se vão matando (aos milhares, reforço), até é bom que vão morrendo de fome. A indústria bélica do Mundo, sobretudo dos EUA, vai continuar a ter necessidade de mercados com elevado potencial (gente para morrer e petróleo para pagar).

E o petróleo de Angola para onde vai? E os angolanos como (sobre)vivem?

E das duas uma. Ou há dois tipos de terrorismo, um bom e outro mau, ou então é preciso impor alguma moralidade na forma como se trata do assunto.

Terrorismo mau é só aquele que é transmitido pelas televisões ocidentais? Vítimas só são as que estão em nossa casa?

É claro, refira-se mais uma vez, que o terrorismo é todo ele mau. Os autores devem ser punidos. Sejam eles Teodoro Obiang Nguema ou Kim Jomg-il.

Mas devem ser punidos todos. Não apenas aqueles que se atreveram a chatear o tio Sam, não apenas aqueles que entendem que a liberdade dos EUA termina onde começa a deles. E, convenhamos, os EUA não são grande exemplo de moralidade e equidade.

Os americanos (sobretudo eles, mas não só eles) devem, aliás, ter cuidado para (mais uma vez) não fornecerem aos amigos de momento a corda com que estes, mais tarde, vão enforcar... americanos.

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