A propósito do texto Brasil come (e bem) Portugal de cebolada, em que é abordado o lançamento da TV Brasil Internacional, que chegará, inicialmente, a 49 países africanos, entre eles Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, alguns leitores dizem que me esqueci que há muito existe a RTP Internacional e a RTP África.
Como diz o meu amigo Eugénio Costa Almeida, uns fazem, outros simulam que têm um canal para África, onde a maior parte dos programas são resquícios de outros já transmitidos em Portugal, ou alguns pseudo-programas culturais emitidos em simultâneo para África e Portugal (e também para o canal internacional) cujo conteúdo, em muito, deixa a desejar e nada tem de orientador ou culturalmente adquirível pelas culturas africanas.
Não basta aos africanos uma meia hora de um pequeno jornal “Repórter”, ou saber como se fazem alguns pratos típicos africanos, ou qual a música do momento, ou ter um excelente programa – retransmitido com quase seis meses de atraso – como o Kandandu ou, ainda, algum pequeno tempo de antena para alguns desportos afro-lusófonos (em regra o futebol e pouco mais).
Os africanos querem muito mais. Mas mesmo muito mais.
África tem muito para mostrar. Muito do bom – felizmente o que tem mais – mas, também, o que de mau se lá passa, nomeadamente corrupção, compadrio, má-governação, etc. e a sua divulgação pode ajudar a acabar, ou minorar, os seus efeitos nas populações.
Por isso não surpreende que o francês e o inglês estejam paulatinamente, a sobrepor-se ao português em países como a Guiné-Bissau e Moçambique.
E não me venham dizer que se deve à sua posição geo-estratégica. Digam antes que há pouca vontade política de acabar com o pseudo-neocolonialismo tão intrínseco na esquerda portuguesa.
A esquerda portuguesa é capitalista mas como não reconhece o direito à iniciativa privada não permite que o canal para África seja realmente um canal para África, gerido em equitativa posição pelas televisões dos países afro-lusófonos.
Até lá vamos vendo uns a desenvolver e espalhar a sua língua sem amordaçar as culturas locais e outros vão fazendo de conta que têm um canal de união, mas que, na prática...
Por favor, deixem de gozar com a nossa chipala.
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