É confrangedor o culto ao chefe por parte dos socialistas. Eu sei que já há muitos a dar sinais de que a todo o momento (basta o chefe deixar de o ser) podem mudar de barricada. Mas, mesmo assim, tenho alguma dificuldade em entender como é que socialistas inteligentes continuam de cócoras.
Também me custa a aceitar (cada vez menos, é verdade) que Portugal seja uma espécie de país onde os que dizem sempre que sim são bestiais e, é claro, onde os que só dizem que sim quando devem dizer que sim, são umas bestas.
Basta esperar que Sócrates deixe o poleiro para se ver que, afinal, havia muitos socialistas que até achavam que o primeiro-ministro tinha, no mínimo, conhecimento de um plano para controlar órgãos de comunicação social.
Embora não vá à missa de Pacheco Pereira, creio que ele tem razão quando diz, como o fez hoje, que os sociais-democratas não têm dúvidas, perante os elementos recebidos pela Comissão de Inquérito à compra da TVI, “da existência no ano de 2009 de uma operação política de carácter conspirativo de controlo de órgãos da comunicação social, desenvolvida com conhecimento do primeiro-ministro por quadros do PS nas empresas em que o Estado tem participação”.
Aliás, a forma como os elementos do PS que integram a respectiva Comissão de Inquérito expelem ódio quando alguém critica o sumo pontífice do partido e do Governo é reveladora, entre outras coisas, de que quem deve... teme. Fazem, aliás, lembrar os lacaios de Idi Amin.
Embora seja uma prática corrente nas ocdentais praias lusitanas, alguém com alguma sanidade mental duvida que os governos de José Sócrates foram os que mais trabalharam para que os jornalistas fossem formatados, com ou sem chip, consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder?
Se calhar, como me dizem ex-jornalistas que hoje são assessores, directores, administradores, deputados etc., o melhor era aceitar a derrota e na impossibilidade de o vencer, juntar-me a eles.
Para mim seria com certeza uma boa opção. Não estaria certamente no desemprego. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, tenho mesmo de afirmar que a luta continua.
E continua porque, ao contrário dos donos do poder e dos lacaios ao seu serviço, continuo a lutar pra que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver.
Recordam-se, por acaso, de quen disse que "Sócrates reduz a política à sua pessoa"? Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria) que o primeiro-ministro de Portugal tem todas as características de um ditador. Só quando chegou ao poder a enfermidade foi conhecida, mas a cada dia que passa tende a agravar-se.
Num artigo de opinião do jornal Público há para aí três anos, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre criticava "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificam no Governo de José Sócrates. Recordam-se?
"Há um clima propício a comportamentos com raízes profundas na nossa História, desde os esbirros do Santo Ofício até aos bufos da PIDE", escreveu Manuel Alegre, acusando o Partido Socialista de "auto-amordaçar-se".
Não creio que por enquanto (eu sei que sou optimista) José Sócrates seja dos que pegam na pistola quando ouvem falar de jornalistas. E não pega por duas razões: Por um lado, se tal for necessário tem lá os lacaios que se prestam a tal serviço, por outro, os países mais civilizados da Europa (e não só) usam meios mais sofisticados para calar as vozes incómodas.
De facto, não é preciso dar um, ou quantos forem precisos, tiro no Jornalista. Basta oferecer-lhe uma pistola e depois fazer-se uma reestruturação empresarial (sinónimo óbvio de despedimentos). Quando o Jornalista descobrir que não tem dinheiro para pagar o empréstimo da casa ou os estudos dos filhos... dá um tiro na cabeça.
Sócrates lá terá as suas razões. Convenhamos que a verdade às vezes incomoda, seja em Portugal, na Rússia (Anna Politkovskaia) ou em Moçambique (Carlos Cardoso).
Aliás, foi comovedor ver todos aqueles que estão de pistola em punho saírem à rua para condenar o que se passou na Rússia, por exemplo, e dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim, desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.
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